sexta-feira, julho 29, 2005

Gaydar

Quem nunca se interrogou sobre aqule giraço alto, espadaúdo e de olhos verdes que vai connosco aos saldos da Zara e conhece todas as últimas tendências da moda? Ou sobre outro, amigo de uns amigos, que tem a discografia completa da Madonna, um poster da Carmen Miranda na sala por cima do sofá e a colecção dos clássicos com a Marlene Dietrich e a Bette Davis? Ou, ainda, sobre aquele outro, também lindo de morrer, sempre paginadinho (não, nada de gravata nem coisas dessas, tem mesmo só bom gosto na escolha do guarda-roupa) que chora connosco no cinema, acha imensa graça quando lhe contamos as fofocas das amigas e nos atura as últimas desilusões amorosas?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas... Será o homem perfeito? Será metrosexual, essa nova espécie masculina que as revistas inventaram? Ou será apenas e lamentavelmente gay?

O problema é sério, caras amigas e amigos. A verdade é que é cada vez é mais difícil dar resposta a estas dúvidas existenciais. Aparentemente, deveria bastar uma pequena perguntinha ao objecto das nossas paixões e pronto. Mas quem nos garante que a resposta é sincera e que não acabamos depois por ter alguma amarga surpresa quando descobrimos que o homem-maravilha em questão prefere os trazeiros dos nossos amigos ao nosso?

E, afinal, parece que há uma luz ao fundo do túnel. Chama-se Gaydar e, ao que consta, "é uma espécie de microchip, tipo o dos animais domésticos, inventado no Japão". É graças a ele que os gays conseguem (quase) sempre identificar imediatamente outro gay. Há quem garanta que é de origem, mas também há quem diga que nos últimos anos têm disparado "as excursões gays a Marrocos e ao Brasil, onde é muito mais barato implantá-lo".

Assim sendo, na próxima vez que a dúvida se instalar, basta levar consigo aquele amigo gay de todas as horas e, voilà, está feito.

Infelizmente, o grande invento ou seja lá o que for, não impedirá aquelas situações em que um velho amigo nos leva a conhecer a sua casa nova e descobrimos que só há um quarto de cama e que nas estantes há fotos dele abraçado ao colega de apartamento tiradas durante a última excursão ao Brasil ou a Marrocos.

domingo, julho 24, 2005

Lance

Hoje este homem é o meu herói.


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terça-feira, julho 19, 2005

Coincidências

Reconheceu-se no texto. Um post idiota, num blog onde aterrou por acaso, numa noite em que não conseguia dormir. Leu-se nas palavras, nos comentários que outros tinham lá deixado. Era a sua história que estava ali escarrapachada e contada ao mundo. Num impulso, enviou um e-mail à autora. Deviam conhecer-se, de certeza. Que direito tinha ela de cometer, assim, estas inconfidências?

A resposta veio na volta do hotmail: há coincidências. Só isso. Há muitas. E não há muito mais para contar, só formas diferentes de o fazer. Os homens e as mulheres continuam e hão-de continuar a amar-se e a perder-se, a encontrar-se e a mentir uns aos outros. A sua história era só mais uma, tal como aquele post idiota naquele blog idiota.

sábado, julho 16, 2005

A duas vozes

ELE

Agrediu-me. Saltou da mota, de repente, e mandou-me com uma pedra à cabeça. Bom, na verdade não foi bem uma pedra, mas podia muito bem ter sido e disso não vale a pena falar, que um homem tem de preservar o seu orgulho. Fiquei tão atarantado que nem consegui deixá-lo com um olho negro, mas está lixado comigo, porque daqui para a frente tem todos os polícias da cidade à perna. O Silva, que me deve vários favores, desde que lhe operei a sogra, já tratou do assunto. Além disso, metade do corpo da GNR tem ficha lá no consultório. Como ele também tinha, aliás. Ele e a mulher, a loira mais deslumbrante que até hoje me apareceu na consulta. Vinha com uma coisa de nada, mas encaminhei-a para o meu consultório no Centro e bastou uma semana de auscultações para experimentarmos os dois a qualidade da maca dos doentes, a cadeira do dentista, o tapete de arraiolos do chão e o sofá da sala de espera. O problema foi ela apaixonar-se. É sempre esse, aliás, o problema das mulheres. Às tantas já não lhe chegavam as consultas semanais. Queria flores, queria jantares no Eleven, queria fins-de-semana no Hotel da Ericeira quando o marido estava de serviço. Eu fui-lhe fazendo as vontades e desta vez, nem sei como é que me aconteceu, não ataquei logo com o discurso do não estou preparado, ainda me sinto traumatizado com o divórcio e fórmulas afins, que dão sempre muito resultado. Foi o maior erro da minha vida, porque agora tenho a cabeça partida e a loira lá em casa, a mudar-me a decoração da sala e a encher a estante de bibelôtes. Há uma semana, depois de mais uma consulta personalizada, contou tudo ao marido. E à mãe, e às amigas, e ao mundo. Depois, fez a mala e apareceu-me à porta, lavada em lágrimas, a dizer que não aguentava nem mais um minuto com tanta mentira, que me ama desesperadamente e que comigo é que quer ficar até ao fim dos seus dias. E eu, que quero é chegar ao fim dos meus dias descansadinho e sem uma gaja a foder-me o juízo, não sei o que hei-de fazer, não sei como é que lhe hei-de dizer que já não a posso ver à frente, que está gorda e cheia de celulite, que devia deixar de pintar o cabelo porque aquele loiro não lhe fica nada bem. Se calhar digo-lhe só que acabou e pronto, está feito.

ELA

Coitadinho do meu amor, com a cabeça naquele estado, não posso olhar para ele que me dá logo vontade de chorar. O Joaquim foi um cobarde, onde é que já se viu, apanhar assim um homem de surpresa e deixá-lo naquele estado? Só me pergunto como é que pude estar tantos anos casada com um tipo destes. E logo eu, que fui sempre tão honesta, que tive a coragem de lhe contar que não podia continuar com ele porque estava perdidamente apaixonada pelo nosso médico de família. Que tive a coragem de lhe dizer que preciso de sexo, que com ele já não tinha um orgasmo desde a noite de nupcias, quando ainda nem sequer sabia muito bem o que isso era. Que já não aguentava passar-lhe as camisas a ferro e aturar a mãe dele sempre a dizer mal dos meus cozinhados. Que já não aguentava a vidinha de merda com que viviamos há anos e que redescobri a vida na marquesa do consultório do doutor. É assim que ele paga a minha honestidade. Mas a vida continua e nunca me senti tão feliz como agora. A vivenda do doutor já nem parece a mesma. Agora tem um toque feminino, tem flores na janela, lençois de cetim e amor por todo o lado. E já não precisamos de nos enfiar em hotéis às escondidas, porque podemos gritar ao mundo que nos amamos e que vamos ser felizes até ao fim dos nossos dias. Qualquer dia digo-lhe que quero ter um filho e tenho a certeza que os olhos deles hão-de brilhar de alegria e que há-de amar-me ainda mais. Muito mais.

segunda-feira, julho 11, 2005

Amotótil

Agora manda-me sms a dizer "amotótil" e eu, mesmo não sabendo muito bem o que é isso repondo "eu kurtotótil", assim com k e tudo, pouco preocupado com os pontapés no português e encantado com o meu manobrador de gruas de alta precisão, divino como uma estátua de Miguel Angelo, que à noite me espera em casa, de avental e livro de receitas na mão. É a minha ilha, onde me esqueço das reuniões sobre o andamento do PSI20 e as evoluções do preço do crude em Londres e NY. Não me perguntes se estou apaixonado por ele, porque não te sei responder, mas há muito tempo que decidi que a pessoa com quem durmo não tem de ser a pessoa com quem discuto os últimos problemas do trabalho ou os vencedores do Nóbel. Por isso deixo-o contar-me como foi o seu dia na obra e as saudades que tem do seu país algures na Europa central, com aquele português cheio de sotaque que me deixa perdido de bêbedo. Às vezes levo-o ao Lux e depois acabamos a noite no Kremlin abraçados um ao outro como quando eu era miudo e acabava as matinés no cinema municipal agarrado a uma rapariga qualquer, mas de olhos postos no matulão do liceu, discretamente para ninguém ver que as raparigas pouco me interessavam. Se calhar não estou apaixonado por ele, mas sinto-me feliz por já não ter de viver no meio da hipocrisia, quando tinha de fingir o que não sou. Agora só finjo no escritório, porque afinal ninguém tem nada a ver com a minha vida, mas estou a pensar se este ano o levo ou não à festa de Natal da empresa. Aposto que o meu manobrador de gruas de alta precisão iria partir corações, mas não ainda não sei se estou preparado para isso.

domingo, julho 10, 2005

Uma valsa no aniversário do T&V

Valsinha

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito sempre falar
E nem deixou-a a só num canto, para seu grande espanto convidou-a
pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido docotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praia e comearam a se
abraçar
E ai dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felícidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que todo mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Vinicius de Moraes

Este blog nasceu há um ano, com um post que era também um poema de Vinicius.
Obrigada pelas vossas visitas, que me deixam sempre tão orgulhosa.

quarta-feira, julho 06, 2005

Distância

Meses e meses depois, cá estava ele, em Lisboa, e logo no dia de Santo António, que melhor presságio se poderia pedir? Meses depois de se terem conhecido, milhões de caracteres gastos em e-mails e em horas de conversa no messenger, o Atlântico deixou de estar no meio e de lhe cortar os abraços e os beijos, muitos, sempre virtuais, mesmo quando se decidiam a, antes de dormir (ela) e de acordar (ele), marcar o número no telefone e falar durante alguns minutos. Só que os amores são assim. Conseguem resistir à distância, mas às vezes vão-se abaixo com as presenças. E não trazem explicações nem livros de instruções, por isso acabam quando menos se espera, em pedaços no chão de um aeroporto. Falhou a química, falharam os sonhos, falhou o Santo António e foi cada um à sua vida, porque a distância é um espaço grande demais que exige demasiada coragem para se transpor. E, depois, como toda a gente sabe, uma boa história de amor raramente tem um final feliz.

segunda-feira, julho 04, 2005

Malmequer...

...bem me quer,
mal me quer,


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bem me quer,
mal me quer,
quer,
não quer,
quero,
não quero...

não sei!

domingo, julho 03, 2005

Mentiras

A Maria e o João eram namorados há três anos e viviam juntos há seis meses.
Eram o casal perfeito.
Andavam de mão dada pela rua, davam jantares perfeitos para os amigos, terminavam as frases um do outro.
Até ao dia em que a Maria se enrolou com o José, seu colega de trabalho.
Que por acaso vive com a Cristina, colega de empresa do João.
O João saiu de casa e levou o gato.
A Maria acabou tudo com o José e tem saudades do gato.
A Cristina não sabe de nada e continua feliz e apaixonada pelo José.
O José ofereceu um ramos de flores enorme à Cristina e há um mês que lhe diz todos os dias que a ama.

Quid iuris?

sábado, julho 02, 2005

Sugestão de leitura

Sábado
de Ian McEwan


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Num único dia, a vida de um homem é esquadrinhada, vista e revista, mudada para sempre. Basta um minuto, um polícia que fecha os olhos e deixa passar um carro por uma rua cortada ao trânsito. Depois um encontro inesperado e o dia, que começara com o homem na janela a observar o amanhecer, transforma-se e transforma o presente e o futuro para sempre.

Ian McEwan no seu melhor, com uma extraordinária capacidade de percepção e uma escrita envolvente que nos faz mergulhar na leitura e, no final, interrogarmo-nos, também, sobre a importância dos mais pequenos e insignificantes episódios dos nossos dias.