quarta-feira, dezembro 29, 2004

Mistérios

Duas horas num avião ao lado de um homem que tem todo o ar de praticar halterofilismo, se ri a bandeiras despregadas de piadas de circunstância sem graça nenhuma e que lê "Onze Minutos" de Paulo Coelho. Sim, esse mesmo! Esse monstro da literatura mundial que escreve coisas tão profundas como "aqueles que me tocaram a alma não me tocaram o corpo e os que me tocaram o corpo nunca me tocaram a alma" (ou qualquer coisa do género, segundo consegui espreitar na contracapa). O homem mergulha completamente na leitura (felizmente o Pai Natal existe e ainda anda por aí) mas há aqui qualquer coisa que não bate certo. Que mais pode acontecer a uma rapariga em stress pré-aniversário e a nadar em profundas dúvidas existenciais? Quem é que entende estes homens? De onde vêm e para onde vão? Ainda imaginei que o Paulo Coelho fosse para impressionar, mas não! As páginas era vê-las passar, tal o entusiasmo na leitura. Ok. O mundo não está perdido de todo: dois lugares à frente outra criatura lia "As Farpas" versão Maria Filomena Mónica e ía sublinhando as páginas.

(Não, não é preconceito contra o Paulo Coelho, que por acaso acho uma parvoíce pegada e um montão de lugares comuns! É só mais uma das minhas cromices: averiguar o leêm as pessoas durante as viagens de avião. Às vezes também faço isso no Metro, mas a preponderância de "24 Horas", "Maria", "Record" e "Correio da Manhã" é tanta que a coisa já perdeu a graça e ultimamente entretenho-me a espreitar e ir actualizando as notícias sobre a Quinta das Celebridades...)

segunda-feira, dezembro 27, 2004

teste

porque é que o meu blog desapareceu??

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Feliz Natal

Posted by Hello
(animem-se: terminou a época das compras natalícias mas vêm aí os saldos!!!)

Beijinhos para todos

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Sugestão de leitura...

... perfeita para uma bela noite de inverno passada no belo do sofá com dois gatos a aquecer-nos os pés e um copo de vinho alentejano a aquecer a alma.

Preparados? então toca a comprar a "Prosa Completa", do Woody Allen. Está lá tudo: "Sem Penas", Para Acabar de Vez com a Cultura" e "Efeitos Secundários". Textos hilariantes, do mais puro non sense, deliciosos.

E lá ficamos a saber, entre muitas outras coisas, que

"A realidade é a ocidente. As esperanças falsas a Leste, e julgo que a Luisiana a Sul"

ou que

"O universo é apenas uma ideia passageira na mente de Deus - um pensamento bonito e incómodo, sobretudo se se acabou de pagar a entrada para uma casa"

e ainda que

"O verdadeiro teste de maturidade não é a idade de uma pessoa, mas sim o modo como reage ao acordar em cuecas no meio da cidade. Que importa a idade, principalmente se o nosso apartamento for de renda limitada? O que é preciso lembrar é que cada época da vida tem as suas compensações próprias, ao passo que quando se está morto é difícil encontrar o interruptor da luz"

Muito bom...

p.s. já agora, uma pequena informação para os fãs do senhor: Woody Allen mais a sua New Orleans Jazz Band são cabeça de cartaz no reveillon do Casino do Estoril. Se tiverem paciência para se enfiar no smoking ou nas lantejolas e aguentarem ouvir o Armando Gama a tocar piano enquanto comem terrina de foie gras de ganso com geleia de figos e pão de especiarias, dueto de lavagante e camarão tigre com flor de espargos verdes (tudo por uns míseros 500 euros), então tratem de marcar um lugarzito para não perder o clarinete do realizador-actor-escritor-humorista-músico e por aí fora.



domingo, dezembro 19, 2004

Sondagem - conclusões

Ninguém gosta de ser trocado. Está tudo dito. Grande conclusão, dirão vocês. Pois é. De facto não era preciso fazer sondagem nenhuma para se chegar a esse brilhante resultado. Já todos sabemos disso. Porém, tenho de fazer aqui um mea culpa. Provavelmente incorri no mesmo erro que os nossos ilustres ex-deputados quando formularam a pergunta para o referendo sobre a Constituição Europeia, só que ao contrário.

Eu explico. A questão era demasiado básica e o que importava era o que estava para além dela. Se não, vejamos:

Ninguém gosta de ser trocado, está bem, mas ser trocada por uma mulher é daquelas coisas que acontecem. A malta chora baba e ranho, lança 324 pragas à galdéria que nos roubou o homem, pensamos seriamente em lhe arrancar todos os cabelos, ponderamos a possibilidade de uma vingança terrível e choramos novamente baba e ranho - dependendo de cada uma, este processo pode durar apenas uns minutos, vários dias ou até meses. Depois recuperamos a lucidez e e concluímos que a culpa foi toda do gajo, que nos andou a enganar e que é um belo filho da puta, sem ofensa para a mãezinha, que pode até ser muito simpática mas que, na maioria das vezes é uma chata de todo o tamanho. Nos casos mais raros, a lucidez, duramente alcaçada, permite-nos concluir que provavelmente foi apenas o amor que acabou, que a vida é assim mesmo e que daí a uns tempos vamos descobrir que foi o melhor que nos podia ter acontecido.

Já ser trocada por um gajo é completamente diferente. Não tenho nada contra os homosexuais, homens ou mulheres (não é para ser politicamente correcta, não tenho mesmo!), mas doi muito mais. É no mínimo chato descobrirmos que o homem das nossas vidas, como quem fomos para a cama, com quem partilhámos o shampô e o gel de banho, afinal é gay. Confunde o juízo constatarmos que não fomos capazes de descobrir os sinais e que o gajo nem sequer foi honesto quando, entre os leçóis, trocámos informações sobre as nossas fantasias sexuais. E não me venham dizer que um homem decide que é gay porque se lhe acende um interruptor qualquer (lamento, Tay, mas não posso concordar com essa tua teoria). Pode ser que resolva assumir-se ou que arranje finalmente coragem para admitir para si próprio que gosta mais de homens do que de mulheres, mas os sinais estavam já lá e nós não conseguimos dar com eles. Essa merda é chata. Se uma mulher deixa de poder confiar na sua intuição, então está tudo perdido.

Considerando tudo isto, o T&V mantém a sua teoria: A ser trocada, então que seja por uma mulher. De preferência uma loira falsa, cheia de celulite e que não não consiga articular duas frases seguidas. E se por acaso for uma toda gira e hiper inteligente, do mal o menos: sempre poderemos dizes que o gajo mantém o bom gosto embora, naturalmente, tenha baixado a fasquia.

Já quanto ao resultado da sondagem, depois de aplicados os mais rigorosos métodos estatísticos, somos obrigados a concluir que a maioria dos(as) leitores(as) se pronunciou em sentido oposto, afirmando que se tiver de ser, então que seja por um homem, porque é sinal que lhe dá alguma coisa que nós mulheres não podemos dar. Com o devido respeito pelas opiniões alheias, o T&V lembra que se for uma mulher podemos concluir exactamente o mesmo, ainda que a "coisa" em questão possa ser outra.

(P.S.: Querida Ciranda: Sendo este um blog sobre histórias no feminino onde qualquer semelhança com a realidade não será pura coincidência, a questão é importante, sim senhora. E dou-te um exemplo. Estava eu num almoço de gajas onde o assunto foi discutido e, no meio de um grupo unânime em preferir a versão "ser trocada por um gajo", ouviu-se uma vozinha à beira das lágrimas a dizer para a audiência: "Vocês não sabem o que dizem. Ser trocada por uma mulher é doloroso à brava, sobretudo quando o cabrão do homem vem dizer 'querida, aquilo não significou nada, foi só cama, porque é a ti que eu amo e amarei até ao fim dos meus dias'." Comentários para quê?...)

sábado, dezembro 18, 2004

Danças

"Uma dupla de professores origiários de Cabo Verde, bailadores da melhor estirpe", ensinam Kizomba - "um dos ritmos mais alegres daquelas terras" - e Funaná - "originário de terras angolanas, mas ritmo número um nas disco afro". Ele é "Zé Barbosa, membro dos grupo Nós Manera" e ela é Kwenda,grande especialista em afro-salsa. Para quem preferir uma onda mais exótica, Elsa Sham'e ensina "todos os segredos da dança oriental, a bellyDance". Tudo nos workshops do Ateneu Comercial de Lisboa.

Ora digam lá que não apetece?! Deram-me os panfletos no Metro e tenho andado a pensar se me hei-de inscrever ou não. Bem sei que é uma onda um bocadinho diferente dos Tangos & Valsas, mas sempre sonhei dançar estas músicas como uma profissional. O meu problema é mesmo a falta de ritmo e, perante a possibilidade de ser a única a ir para a esquerda quando todos os outros vão para a direita - ou vice-versa - palpita-me que é melhor não fazer figuras tristes e continuar a apostar na hidroginástica... Assim sendo, aqui fica a sugestão.

(P.S. Brevemente darei novidades sobre os resultados da mega sondagem. Agora que a pergunta para o referendo sobre a Constituição Europeia foi olimpicamente chumbada pelo Tribunal Constitucional - alguém percebe por que raio os ilustres juízes não entenderam a bela da questão, tão fácil e acessível? - esta sondagem ganhou nova força, pela pertinência do assunto em causa.)

terça-feira, dezembro 14, 2004

Sondagem

A propósito do post aqui em baixo, e depois de algumas discussões sobre este pertinente tema, resolvi fazer uma sondagem. A pergunta, quase tão difícil como a que a nossa Assembleia da República aprovou para fazer aos portugueses no Referendo sobre a Constituição Europeia, é sobretudo dirigida às mulheres, mas também gostaria de saber a opinião dos homens.

Cá vai:

"Preferias ser trocada por um homem ou por uma mulher?"

deixem um comentário ou mandem um e-mail. Os dados recolhidos serão tratados se acordo com as mais rigorosas regras da estatística.




segunda-feira, dezembro 13, 2004

No cabeleireiro

"Estas pontas estão terríveis, querida! Não vem cá há séculos e veja ao que isto chegou!!!" O meu cabeleireiro, horrorizado, ía soltando uns gritinhos à medida que passava uma a uma as madeixas que eu finalmente consegui deixar crescer à custa de muitos sacrifícios. Senti-me como uma miúda de escola a quem a professora ameaça com umas reguadas por não ter feito os trabalhos de casa. "Temos de fazer aqui uma mudança radical", continuava ele, esganiçado. "E esta cor! O que lhe passou pela cabeça para pôr este castanho quase preto? Já viu que se notam muito mais as olheiras? Fica com um ar pesadérrimo!" Ainda balbuciei qualquer coisa, do género "não quero mudanças radicais", mas ele, do alto da sua autoridade, ignorou-me olimpicamente: "Ora ainda bem que estamos de acordo. Não fazemos mudanças radicais mas pomos aqui uma cor, umas madeixas ali, escadeamos deste lado, cortamos daquele..." E isto tudo enquanto me empurrava delicadamente para uma fantástica cadeira de massagens com uma fantástica vista para o rio e me punha nas mãos uma revista de penteados daquelas onde as modelos parece que apanharam todas com uma corrente de ar mas a quem os "despenteados" ficam lindamente. Obediente, entreguei-me às massagens e quase adormeci a ouvi-lo falar do último namorado e das férias maravilhosas que ambos passaram no mês passado em Roma. Três horas depois saí de lá, com menos cem euros na conta (valha-me Deus!) e um "modernissímo" corte de cabelo, com um tom a dar para o vermelho e várias madeixas realmente vermelhas espalhadas pela cabeça. Discretamente fui olhando para mim própria em todos os vidros com reflexo por onde ía passando e convenci-me que estava realmente linda e maravilhosa. Depois de chegar a casa continuei a tentar convencer-me mas aí, já com a luz necessária para devidamente apreciar a obra de arte, quase tive uma apoplexia. Nem os meus gatos me reconheceram! Ela não pára de miar à minha volta e ele escondeu-se prudentemente no roupeiro. Não sei se hei-de ir a correr ao supermercado comprar uma daquelas tintas maravilha que me devolverão o meu "castanho quase preto", se hei-de simplesmente enfiar-me debaixo dos lençois e só sair de lá depois do Natal, se hei-de arranjar coragem para sair de casa amanhã e, confiante, enfrentar o meu cabelo vermelho. Nunca hei-de entender esta minha incapacidade de dizer não ao meu cabeleireiro...

domingo, dezembro 12, 2004

Aparências

Primeiro foi o Zé Tó. conheceram-se ainda na Universidade, namoraram durante três anos, viveram juntos os melhores tempos do curso, foram a todas as festas, fizeram teatro no grupo amador da faculdade, viajaram de combóio pela Europa, criaram o seu grupo de amigos e festejaram juntos a última oral, o "canudo" conseguido à custa de noites em branco a estudar nas vésperas dos exames. Sempre juntos. O par ideal, apaixonados, decididos a casar e a viver felizes para sempre. Casaram no verão seguinte e viveram juntos dois anos até que um dia ele chegou a casa e lhe comunicou que queria o divórcio. Apaixonara-se. Só isso. Apaixonara-se por outra pessoa. Apaixonara-se pelo João, um colega de trabalho, e iam viver juntos. Não tinha nada a ver com ela, que era e continuaria a ser a sua melhor amiga, mas tinha descoberto a sua homosexualidade e estava disposto a enfrentar tudo e todos para viver em paz consigo próprio.

Ela chorou durante semanas, sem saber se chorava por ele, por si, pela ausência dele ou pelo facto de ter descoberto que ao fim de cinco anos não conhecia o homem com quem se tinha casado e com quem, supostamente, havia de ser feliz para sempre. Depois levantou a cabeça. Convenceu-se de que essas coisas acontecem, que era melhor para os dois e que ele tinha o direito de ser feliz como muito bem entendesse e com quem quisesse.

Depois conheceu o Jorge. Lindo, fantástico, normalissimo. Andou durante meses a tentar descobrir se por acaso ele não olharia vezes demais para o traseiro dos seus amigos, mas depois convenceu-se que estava a portar-se como uma idiota. E deixou-se ir. Apaixonou-se. Precisava disso. Precisava de voltar a acreditar em si, de se sentir amada e desejada e o Jorge era perfeito. Tão perfeito que, quando deu por si, já estava a ser apresentada aos pais dele, a passar fins de semana em casa da família dele, a ajudá-lo a decorar a casa onde iriam viver juntos. Tão perfeito que, embora tivesse jurado a si própria que não voltaria a casar, convenceu-se que desta vez nada poderia estragar o seu amor perfeito. Nada, a não ser... o cabeleireiro a que costumava ir e onde o Jorge a acompanhava, esperando calmamente enquanto lhe faziam as madeixas. Nunca mais lá voltou e nunca mais voltou a ver o Jorge, desde aquele dia em que ele a levou a jantar fora e lhe anunciou que se tinha apaixonado pelo Michael - Joaquim, para os amigos lá do bairro antes de se ter transformado em cabeleireiro chique que cobrava balurdios por fazer umas madeixas fabulosas.

Não há mulher que aguente ser trocada duas vezes por um homem. Chorou baba e ranho, meteu um mês de férias e fechou-se na casa da praia, sem atender telefones a não ser à mãe, que não percebia o que se passava com a filha nem por que raio tinha acabado o namoro com aqule rapaz tão jeitoso, tão sensível, tão dedicado.

À custa de sessões de terapia, que quase a levaram à falência, recuperou o amor próprio e voltou à sua vida habitual. Recuperou os velhos amigos, não recusou um único convite para sair e namoriscou com quem lhe apeteceu sem, no entanto, deixar que alguma vez as coisas fossem longe demais. Mesmo sem querer, mesmo com a voz do psicólogo a soprar-lhe aos ouvidos que as escolhas dos ex nada tinham a ver consigo, não era capaz de acreditar que a(s) experiência(s) não se repetiria(m).

Há dias encontrámo-nos. Não a via há anos, não sabia de nada disto e fiz a pergunta idiota que fazemos quando encontramos colegas de curso com quem não falamos há muito tempo: se estava sózinha, se tinha casado, filhos, essas coisas. Encolheu os ombros, sorriu e respondeu que não, que agora está a pensar "experimentar as mulheres". Ri-me também, sem perceber a piada e ela contou-me a sua última história. Depois do Zé Tó e do Jorge tinha dado ouvidos ao idiota do psicólogo e começara a andar com o Guilherme. Eram amigos de infância, tinham crescido juntos, se ele fosse gay ela haveria de saber. Enganara-se: duas semanas antes fizera-lhe uma visita surpresa, com uma garrafa de vinho tinto e um presente de aniversário e deu com ele enfiado na cama com um homem. Nem se deu ao trabalho de lhe voltar a falar. Desta vez não chorou.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Conversa de amigas

- Tenho andado a sair com um velho amigo. Acho-o muito querido, acho-lhe piada, mas ainda é muito cedo... Aliás, acho que tem um monte de características que não sei se será possível conviver com elas em harmonia.

- Por exemplo?

- Olha, é esquisito com a comida, está sempre na defensiva, mais... é hipocondríaco...

- Terrível, péssimo!!!

- ... nao vai ao cinema, passa as férias em casa...

- Ai, ai... e aperta a pasta de dentes onde? Tu tem mas é juizo!! Não te prendas a detalhes. Se calhar prefere ver filmes em casa, se calhar não vai de férias porque quer ir para a Patagónia mas não lhe tem apetecido ir sózinho e hipocondríacos são todos.

- Mas são os detalhes que a partir de certa altura importam... Por exemplo, a comida: apetece-te ir comer uma pizza, apetece-te chinês, indiano... não gosta de nada. Diz lá que isso não é chato? E depois imagina que queres fazer um prato assim todo especial, vai o gajo, torce o nariz e a boa esposa ri-se e diz 'oh querido, se não gostas faço-te já um bife, pronto'...

- Não gosta come um bitoque, ou para a próxima faz ele o jantar, ora, ora...

- Nada disso. Há pormenores que com o tempo se tornam insuportáveis. Tu és uma romântica incurável!

- Sou é prática. Se me disseres que o gajo tem mau hálito, isso sim, é grave. Ou que não toma banho, ou que usa meias brancas, ou, ainda, que vai para a cama de meias, tudo isso sim, é grave. Também é chato se não conseguir articular duas frases seguidas, se o seu livro de cabeceira for a lista telefónica ou se usar permanentemente o pronome "eu"... O resto são detalhes e depois logo se vê!

(Pequena amostra de uma conversa entre amigas onde os homens podem aprender umas coisas a respeito da visão feminina do longo prazo. Provavelmente se dois gajos falassem sobre o mesmo tópico arrumavam a coisa em três pinceladas com um relatório sobre as mamas e o traseiro da mulher em questão. Ou não, queridos leitores masculinos que me mandam e-mails a dizer que os meus posts são injustos para o chamado sexo forte?)

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Escritas

"O que é que um homem sabe das mulheres? Tenho a sensação de que ao escrever estou a aprender como são aquelas pessoas e o que é a vida, a aprender coisas sobre mim mesmo, sobre os outros. No fundo, somos todos iguais, aqueles problemas fundamentais são os mesmos, as angústias fundamentais são as mesmas, as paixões, os receios..."

António Lobo Antunes
in: Expresso - 4 de Dezembro de 2004


Uma entrevista muito bem feita, que mostra um lado por vezes pouco visível do maior escritor português contemporâneo. Aqui, Lobo Antunes revela o que está para lá do homem distante, resmungão, antipático e egocêntrico que quase sempre aparece nas conversas com os jornalistas.

Já agora, fica também uma Sugestão Lierária: "Eu Hei-de Amar uma Pedra", o seu último livro e, mais uma vez, uma obra de leitura compulsiva e apaixonante.

domingo, dezembro 05, 2004

A duas vozes

ELE

Nada melhor para um homem se sentir livre do que uma semana fora, longe da mulher, dos gritos dos filhos, das noitadas até às tantas no escritório e do inevitável almoço de fim-de-semana na casa da sogra, onde a Sport TV é vista como coisa do Diabo e temos de gramar com desenhos animados a tarde inteira enquanto tentamos desesperadamente ler o Expresso (por sinal muito fraco na secção de desporto). Bem, mas dizia eu que não há melhor que uma viagem, ainda que em trabalho, para um país com sol (quando em Lisboa fazem dez graus negativos) e onde toda a gente usa bikini tamanho S. O D. fez-me uma pequena lista de sítios interessantes para ir à noite e aconselhou-me a tirar a aliança, para evitar perguntas chatas. Não tem nada de mais, não comecem já com coisas. A ideia era só mesmo desanuviar. E não há duvida que resultou. Não, nada disso, tirei a aliança no avião, discretamente, mas não arranjei nehuma namorada temporária daquelas que só sonham em vir para Portugal e adquirir a dupla nacionalidade por via do casamento com um pacóvio qualquer. Concentrei-me nas portuguesas, também todas animadas com as temperaturas elevadas, e fui um sucesso. Uma caipirinha a uma, um samba com outra, um pouco de charme e derretem-se todas. Sim, porque não são só os homens que se entusiasmam com estas viagens. Elas também gostam. Achei melhor disparar em várias direcções, que isto uma semana passa depressa e não havia tempo a perder, e não é que deu resultado? Palavra que em sete anos de casamento nunca me tinha metido numa destas, mas a J. sabe que eu a amo e que isto são episódios sem importância. De resto, quando a coisa já estava devidamente cozinhada e uma delas me esperava à noite no seu quarto do hotel, achei melhor não me meter em confusões e deixar por ali (até porque nesse dia tinha investido nas caipirinhas e era bem capaz de adormecer mal visse uma cama à frente). Não aconteceu nada, a semana correu lindamente e um gajo não é de ferro, claro, e de vez em quando é preciso lubrificar o ego, não é? Quando vi a J. e os miudos à minha espera no aeroporto fiquei todo satifeito. Felizmente tinha-me lembrado de voltar a colocar a aliança quando o funcionário do SEF, a inspeccionar a minha bagagem, deu com ela perdida num dos bolsos interiores da mala. Bendito SEF, lá me livrou de várias semanas a levar com as dores de cabeça nocturnas da J.


ELA

Não há paciência. Mal põem o pézinho no avião já estão a sonhar com o samba e a imaginar qual será a melhor maneira de se enrolarem com a primeira desprevenida (ou não) que lhes caia na conversa, como se fossem os maiores engatatões do mundo. Parece que é assim uma espécie de virus, que ataca a espécie masculina e lhes faz estoirar os neurónios, deixando-lhes as hormonas aos saltos. Depois é vê-los, respeitáveis pais de família, bebedos até cair, a dançar em cima da mesa ou ridiculamente atracados a meninas com saltos de dez centímetros que só querem sacar uns trocos ao portugês que chega cheio de euros e regressa com o cartão de crédiro a zeros e um par de havaianas para a mulher que lhe custaram meia dízia de reais mas que cá fazem um vistão. Não há mesmo paciência. Sentem-se os maiores e vá de derramar charme, convencidos que não há quem lhes resista. Tiram imediatamente a aliança, como se assim pudessem aplacar as crises de consciência, e vá de disparar olhares de carneiro mal morto, de carteira sempre em punho, a oferecer caipirinhas, que o verdadeiro macho latino não deixa que seja uma mulher a pagar. Alguns, com mais sorte, acabam na praia, a contar estrelas. Outros vão contar estrelas sózinhos, para o quarto do hotel, enquanto dizem a si próprios que se quisessem era só estalar o dedo para ter companhia, mas como são honestos e apaixonados pais de família fazem um esforço e ficam-se pelos delírios amorosos solitários, a pensar nas miúdas de bikini tamanho S que passeiam pelo calçadão sem preocupações com a celulite. Depois voltam a casa, felizes consigo próprios, beijinho aos filhos, abraço à mulher, querida, tive tantas saudades, meu amor vamos a correr para casa que esta semana foi tão longa!!! Claro que, entretanto, a aliança já regressou ao seu lugar e também eles se preparam para a vidinha habitual, na ilusão de terem vivido uma semana de sonho e convencidos que mantêm todos as suas brilhantes qualidades de macho, às quais nenhuma mulher resiste. Enfim, o amor é lindo. Sobetudo o amor pelo próprio umbigo...

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Brasil

Este Blog viajou. No coração da sua autora, claro (esta é linda, reconheçam). Atravessaram o Atlântico e estão em Terras de Vera Cruz. Ainda não tiveram tempo de pôr o pézinho na praia (imperdoável...), mas estão muito felizes (a autora apanhou uma valente constipação, mas isso é um pormenor sem importância) e completamente a leste dessa coisa a que se chama crise política e que, segundo os ventos que por cá vão chegando, está a pôr o Pais em polvorosa.

Aqui está tudo muito mais divertido, como verão pelas belissimas crónicas que se seguem.