quinta-feira, agosto 31, 2006

Revisão de estatutos

Está feita a mudança. A vista da cidade foi substituída por outra e a casa cresce, pouco a pouco, os livros reencontram os seus lugares, as madeiras vão-se ajustanto a nós, com pequenos estaitos nocturnos e as plantas recuperam o verde. Os cheiros novos acomodam-se e misturam-se com os antigos, os caixotes vão desaparecendo aos poucos.

Falta ainda ajustar os dias e encontrar o caminho para casa ao fim da tarde sem trocar as linhas do Metro, mas a casa já é a nossa e já reconhecemos os edifícios na vista sobre a cidade.

Está feita a mudança e é tempo de reencontrar prazeres antigos. Por isso, este blog está pronto a voltar ao que era antes. A direcção, reunida em assembleia geral, decidiu, por unanimidade e sem votos vencidos, que também aqui haverá mudanças.

Assim, o T&V vai voltar ao que era quando foi criado. Vai perder a faceta de diário que acabou por adquirir nos últimos tempos e vai voltar a ser o caderno de escritas para que foi criado. Vai servir para ensaiar palavras e frases e para contar histórias que reinventam o dia-a-dia. Ainda que a prosa venha na primeira pessoa do singular, a protagonista dos últimos posts retira-se de cena. Até já.

sábado, agosto 26, 2006

Blog com um pé na rentrée

Hoje estou assim.
(O poema é de Julio Numhauser, um chileno obrigado a refugiar-se na Suécia quando o seu país foi tomado de assalto por um louco. Mercedes Sosa, uma argentina que me fez chorar quando a ouvi na Aula Magna, canta-o magistralmente.)


Todo Cambia

Cambia lo superficial
cambia también lo profundo
cambia el modo de pensar
cambia todo en este mundo

Cambia el clima con los años
cambia el pastor su rebaño
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño

Cambia el mas fino brillante
de mano en mano su brillo
cambia el nido el pajarillo
cambia el sentir un amante

Cambia el rumbo el caminante
aunque esto le cause daño
y así como todo cambia
que yo cambie no extraño

Cambia el sol en su carrera
cuando la noche subsiste
cambia la planta y se viste
de verde en la primavera

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño

Pero no cambia mi amor
por mas lejos que me encuentre
ni el recuerdo ni el dolor
de mi pueblo y de mi gente

Lo que cambió ayer
tendrá que cambiar mañana
así como cambio yo
en esta tierra lejana

Cambia todo cambia,
Pero no cambia mi amor...

Julio Numhauser

terça-feira, agosto 15, 2006

Blog à espera da rentrée



Apetecia ser assim. Agarrar na minha concha e levá-la para todo o lado. Inteirinha, com tudo lá dentro. As paredes com as minhas histórias, as minhas plantas, os meus dedos e os meus sinais, os sonhos que aqui vivi, as pessoas que por aqui passaram e aqui dixaram um bocadinho de si.

Apetecia estalar o dedo e pronto, já estava. Tudo igual, só a concha é que era nova e não teria tido de me desfazer de nada, nada teria ido para ao lixo, nenhuma das minhas revistas, nenhuma das minhas camisolas com mais de dez anos e que nunca mais usarei, nenhum dos meus pares de sapatos, mesmo os que há muito sairam de moda.

No entanto, os tempos são de mudanças. Muitas. Há caixas espalhadas por toda a casa, livros empilhados pelos cantos, roupas perdidas algures dentro de malas. A casa está do avesso, os dias também, os gatos, assustados, emigraram para a prateleira mais alta da estante, a adivinhar que também o seu mundinho está prestes a mudar de sítio.

A minha janela continua aqui, com a sua vista deslumbrante sobre a cidade, mas quando este blog voltar ao activo a paisagem já será outra.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Dura e cara realidade

Cem euros. Mais IVA, pois claro. Ainda não digeri este golpe nas minhas fragilizadas finanças. É o que dá voltar de férias em estado zen, a achar que o mundo é perfeito e que não vale a pena andar com a carteira carregada, com os habituais vinte quilos lá dentro, não vá alguma coisa fazer-nos falta. É o que dá. E eu, ainda no mais puro espírito de férias, lá fui, toda airosa, a sair para jantar, à procura de uma esplanada onde pudesse fazer sauna ao ar livre, de bolsinha a tiracolo e a chave de casa... em casa, do lado de dentro da fechadura.

Assim começou a minha saga do regresso de férias. O arame que o vizinho do lado emprestou não serviu de nada, a radiografia dos pulmões da vizinha da frente também não conseguiu derrubar a persistência do trinco e, depois de uma hora às voltas com a fechadura lá tive de concluir que não tenho qualquer futuro a arrombar portas e que o melhor era convocar ladrões profissionais.

Quinze minutos depois chegava a minha casa um simpático senhor que em menos de um minuto tirou da mala uma providencial radiografia (pareceu-me que era de uma mão, mas não posso garantir) e abriu a bela da porta. Em trinta segundos pôs-me a entrar em casa e a abraçar os meus gatos que miavam desesperadamente do lado de dentro.

E o homem, do mais simpático que há, ainda me deixou ir buscar os cheques antes de anunciar que ia ao carro buscar as facturas e que o servicinho eram cem euros mais IVA. Como que por milagre sai de vez do estado zen e dei por mim a gritar escada abaixo que não queria recibo nenhum, que queria lá saber da fuga ao Fisco, que já me bastava a roubalheira de que estava a ser alvo e que queria que as Finanças fossem... enfim, se o Paulo Macedo descobre estou frita, mas estou-me nas tintas!

O ladão profissional ainda me ofereceu um cartão, com 50% de desconto para usar da próxima vez e lá se foi enquanto eu, no patamar, sorriso a três quartos, o mimoseava em silêncio com todos os palavrões que conheço. Vinguei-me e fui jantar à esplanada do Santo António de Alfama.

Os regressos não são fáceis. Nada. A realidade é mais dura do que a areia da praia. E mais cara, também...

segunda-feira, agosto 07, 2006

Pézinhos na água



Durante duas semanas foi assim. Quase sempre.