Escrever
Quase todos os escritores têm necessidade de partilhar as suas páginas. Escrevemos para que nos leiam, claro, mas no meu caso soma-se a isso o facto de ser uma incurável exibicionista. As minhas personagens são o reflexo de mim, vivem as aventuras que não me atrevo a empreender, falam, amam, e morrem por mim. Este exibicionismo chega a extremos absurdos: penso que aquilo que não conto nunca aconteceu e, ao mesmo tempo, se repito uma fantasia por várias vezes, acabo por acreditar que aconteceu. Além disso, de cada vez que conto uma história, modifico-a, e ao fim de algum tempo, acaba por já se parecer muito pouco com a versão original.
(…) Para mim, não faz sentido narrar sem um interlocutor; não escrevo para mim, nunca tive um diário, prefiro mandar uma carta à minha mãe. Ela devolve-me as cartas ao fim do ano e assim se acumulou um monte de poeirenta correspondência, num armário de minha casa. Essa correspondência diária manteve-nos unidas, apesar de sempre termos vivido separadas, e servem-me para preservar uma fresca versão dos acontecimentos. A única forma de não me perder no labirinto dos meus próprios exageros é escrever os acontecimentos do dia antes de eu própria os transformar, no entusiasmo de os relatar.
(…) Ao escrever, vou dando forma à minha vida.
Isabel Allende
in: El Pais Semanal 26/08/2007
Vem aí mais um livro de Isabel Allende: La Suma de los Dias, na versão original, que se publica em Espanha no início de Setembro. Durante anos fui uma leitora apaixonada de Allende, sempre na linha da frente mal aparecia um novo livro dela. Os últimos souberam-me a pouco, mas nunca deixei de a achar excepcional. Agora, apetece-me novamente lê-la.
(…) Para mim, não faz sentido narrar sem um interlocutor; não escrevo para mim, nunca tive um diário, prefiro mandar uma carta à minha mãe. Ela devolve-me as cartas ao fim do ano e assim se acumulou um monte de poeirenta correspondência, num armário de minha casa. Essa correspondência diária manteve-nos unidas, apesar de sempre termos vivido separadas, e servem-me para preservar uma fresca versão dos acontecimentos. A única forma de não me perder no labirinto dos meus próprios exageros é escrever os acontecimentos do dia antes de eu própria os transformar, no entusiasmo de os relatar.
(…) Ao escrever, vou dando forma à minha vida.
Isabel Allende
in: El Pais Semanal 26/08/2007
Vem aí mais um livro de Isabel Allende: La Suma de los Dias, na versão original, que se publica em Espanha no início de Setembro. Durante anos fui uma leitora apaixonada de Allende, sempre na linha da frente mal aparecia um novo livro dela. Os últimos souberam-me a pouco, mas nunca deixei de a achar excepcional. Agora, apetece-me novamente lê-la.