quinta-feira, dezembro 29, 2005

Feliz ano novo para todos

Sem tempo para mais, um poema que roubei ao Vinícius, que por sua vez o "roubou" ao grnade Victor Hugo. Um grande 2006 para todos!


Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer,
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso contínuo é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar.
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Texto de Victor Hugo, apdaptado por Vinicius de Moraes

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Post egocêntrico

Nunca gostei muito do meu aniversário. Entalado entre o Natal e o ano novo, com toda a gente de férias, era sempre impossível juntar os coleguinhas da escola para a festa e, invariavelmente, apareciam dois ou três e mais o grupo todo das tias que só ofereciam meias e cuecas. E era quando ofereciam alguma coisa, porque o mais normal era mesmo receber a prenda de Natal acompanhada da frase irritante da praxe: é já uma coisa melhorzinha, a contar com os anos. Foi assim durante muito tempo, até que me revoltei e comecei a ameaçar toda a gente que nunca mais lhes falava (e outras pragas que agora não posso revelar) se não recebesse duas prendas. E pronto. Resultou com quase toda a gente. Menos com as tias, mas a minha gaveta das cuecas nunca se ressentiu.

Entretanto fui-me desabituando da festa de anos e do bolo com velinhas e, com o passar dos anos, deixou de me apetecer sequer pensar no dia de aniversário. Claro que, secretamente, contabilizo os telefonemas, as mensagens, os postais. E as prendas, pois.

Este ano apetece-me novamente. Porque estou a descobrir que a década dos trinta está a ser o melhor período da minha vida. Aquele em que deixei de questionar coisas idiotas e me concentrei no que realmente vale a pena. Em que contabilizo poucos mas muito bons amigos. Em que a minha independência financeira me permite fazer as coisas que gosto, viajar nas férias e torrar o cartão de crédito nas lojas do Chiado.

Os trinta estão a ser a minha melhor década. Por isso apetece-me celebrar. E amanhã vou tratar disso...

terça-feira, dezembro 27, 2005

Margaridas

Hoje ofereceram-me flores. E eu fiquei com aquele sorriso estúpido que ainda não me saiu da cara desde que abri a porta e me deparei com o ramo de margaridas brancas. Fiquei assim, a sentir-me feliz como uma miúda e com vontade de contar a toda a gente. Pronto, já está...

segunda-feira, dezembro 26, 2005

The day after

Tanta azáfama, tanta confusão, tantos euros a menos (ou a mais) no cartão de crédito e depois, numa noite, em poucas horas, lá passa mais um Natal. Voltamos para casa cheios de embrulhos, papéis dourados e encarnados, laçarotes ridículos, indiferentes aos que dormem na rua e não tiveram direito a consoada com bolo-rei e doces da mãe. Indiferentes a tudo, até mesmo à história que supostamente estamos a celebrar. Eu gosto do Natal. Gosto mesmo. Gosto das prendas que dou e que recebo, gosto de me empanturrar com o arroz doce da minha mãe e com os licores do meu pai. Gosto de ir à missa do galo e de reencontrar os amigos de infância. Gosto disso tudo e sei que mesmo que quisesse não poderia resolver os problemas de todos os sem-abrigo que dormem ao relento pela cidade. Sei disso e, no entanto, o Natal sabe-me sempre a pouco. Porque há sempre qualquer coisa que deixei de fazer. No dia 25 de Dezembro e em todos os outros dias do ano.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Natal

Há um mar de gente no Chiado. As compras todas por fazer. Os jantares de época com todos os amigos que de repente se lembram que têm saudades, que temos que nos ver, que há presentes para trocar. E eu que ainda nem fiz a árvore nem o presépio, que me esqueci das luzinhas da loja dos trezentos que todos os anos ponho nas janelas, que não comprei a prenda para o amigo secreto lá da empresa nem enviei os 320 cartões de boas festas do chefe. E, no entanto, não ando esquecida do Natal. Já andei a vê-lo no Chiado, na Baixa, no Terreiro do Paço com a maior-árvore-de-natal-da-europa, pirosa até fartar mas que me parece linda de morrer com aquelas luzinhas todas e os focos a apontar para os aviões que vêm da ponte para aterrar na Portela. Não ando esquecida do Natal, porque é o Natal melhor dos últimos anos e porque ando a vê-lo de mãos dadas na rua, com aquele sorriso permanente na cara de quem acha que tudo tem de correr sempre bem. O sol da Austrália não faz aqui falta, porque descobrimos que o Natal à lareira também tem os seus encantos e que o frio de Dezembro em Lisboa acelera a dança das borboletas.

Prenda