Barcelona
Já não sei onde o vi pela primeira vez. Não sei se foi a descer as Ramblas, se foi no bairro gótico, ou no passeig de Gràcia, a namorar alguma das casas de Gaudi. Não sei, porque ele e Barcelona são um apenas e deixaram de existir um sem o outro. Nem Gaudi, nem Picasso, nem Miró, de Barcelona trouxe-o só a ele e a este amor que me fez aprender catalão, porque a língua nórdica que ele falava nunca me entrou no ouvido e o catalão era só nosso, dos dois, uma conquista nossa.
Durante dois anos, Barcelona foi o meu mundo e a cidade mais bela do mundo, e nem me custou deixá-la quando foi preciso mudar novamente de país e o sol foi substituído por um dia em que a noite chegava às três da tarde. Não fazia mal, porque estávamos juntos e o sol éramos nós. Não importava a família dele, com quem tínhamos de dividir a casa, não importava o frio, as conversas que não podia ter por não conseguir aprender a língua, os amigos que ficaram em Portugal, o mar que me fazia tanta falta. Nada importava porque nos tínhamos um ao outro, continuávamos a dizer amo-te em catalão e tínhamos a vida toda pela frente.
E um dia, quase sem darmos por isso, tínhamos também um filho. O nosso mundo subitamente dividido por dois, as contas para pagar no fim do mês, as noitadas em claro, as fraldas que era preciso mudar, e Barcelona lá tão longe, Portugal mais longe ainda, e um amor que não aguentou o embate do lado prático das nossas existências.
A língua dele não sabe dizer saudade, mas é nele que penso todos os dias, quando acordo e vejo o Tejo aqui da minha janela. Um dia levo o meu filho a Barcelona e talvez o encontre de novo, nas Ramblas, ou no bairro gótico, ou no passeig de Gràcia, ou no terraço de la Pedrera.
Durante dois anos, Barcelona foi o meu mundo e a cidade mais bela do mundo, e nem me custou deixá-la quando foi preciso mudar novamente de país e o sol foi substituído por um dia em que a noite chegava às três da tarde. Não fazia mal, porque estávamos juntos e o sol éramos nós. Não importava a família dele, com quem tínhamos de dividir a casa, não importava o frio, as conversas que não podia ter por não conseguir aprender a língua, os amigos que ficaram em Portugal, o mar que me fazia tanta falta. Nada importava porque nos tínhamos um ao outro, continuávamos a dizer amo-te em catalão e tínhamos a vida toda pela frente.
E um dia, quase sem darmos por isso, tínhamos também um filho. O nosso mundo subitamente dividido por dois, as contas para pagar no fim do mês, as noitadas em claro, as fraldas que era preciso mudar, e Barcelona lá tão longe, Portugal mais longe ainda, e um amor que não aguentou o embate do lado prático das nossas existências.
A língua dele não sabe dizer saudade, mas é nele que penso todos os dias, quando acordo e vejo o Tejo aqui da minha janela. Um dia levo o meu filho a Barcelona e talvez o encontre de novo, nas Ramblas, ou no bairro gótico, ou no passeig de Gràcia, ou no terraço de la Pedrera.