domingo, setembro 04, 2005

Dúvida existencial

Ando a pensar se lhe digo ou não. Se lhe conto e lhe acabo com o sorriso com que chega ao trabalho todos os dias ou se continuo assim, a fingir que nada se passou, que o marido dela nunca dormiu com a minha mulher, que deixei a Mariana porque o amor acabou e não porque ela me traiu. Tenho pensado nisto todos os dias quando a encontro junto à máquina do café, quando almoçamos juntos ou quando vamos para uma daquelas intermináveis reuniões de trabalho com algum cliente e onde tenho cada vez mais dificuldades em me concentrar. Ela já deve ter estranhado eu nunca mais ter aceite os convites para jantares a quatro ou para lá ir a casa ver o futebol como fazíamos fim-de-semana sim, fim-de-semana não, mas nunca me perguntou nada. E eu nunca lhe expliquei. Nunca lhe disse que só me apetece partir a cara ao homem da vida dela, aquele que ao fim de três meses de casados passou a dormir também com a minha mulher. Não o fiz, mas ando a pensar seriamente nisso. E, no entanto, falta-me a coragem. Talvez tenham de ser eles a resolver, sozinhos, a vida deles. Como eu e a Mariana, que, numa noite de confissões, desfizemos o que tínhamos construído nos últimos dez anos. A mim aliviou-me saber a verdade, mesmo sendo uma verdade que eu já adivinhava e que no fundo não queria ouvir. E se calhar com ela também é assim. Se calhar custa-lhe menos conviver com a mentira, porque há verdades que doem muito mais, e esta é uma delas. É por isso que ando nisto, há tanto tempo, a pensar se lhe hei-de contar ou não.

17 Comments:

Blogger Isa said...

Conta. Ela que decida mas com as cartas na mesa. Se ela n quiser ouvir far-te-á saber de maneira óbvia.

Bom texto. Curto a tua escrita.

12:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Grande historia! Qd nos mostras o próximo capitulo?

12:52 da manhã  
Blogger Sónia said...

Não há nenhuma verdade que magoe mais que uma mentira...

5:35 da tarde  
Blogger Al said...

para grandes males, grandes remédios. Não digas nada, balda-te simplesmente e deixa-a a pensar. (rsss)
Ainda bem que conheci este salão de danças... é excelente. Parabéns... tudo tão limpinho! (rsss)
Obrigado pela passada com direito a comentário no divina decadência.
Um abraço

8:59 da tarde  
Blogger Margarida Atheling said...

Mil vezes a verdade!!!

9:43 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"Mil vezes a verdade"? não será esta uma posição um bocadinho adolescente?

10:56 da manhã  
Blogger sónia said...

Se calhar ela sabe de tudo há muito tempo, mas prefere não "saber".....

1:46 da tarde  
Blogger Isa said...

Já o sentir-se enganado é uma posição bem adulta. E a meu ver nada, nada confortável. Antes a verdade, por mais que doa, pq no fundo, no fundo sabêmo-la sempre. A diferença é que nos forçamos a tomar uma atitude, seja ela qual for, mesmo que n saibamos qual será, porque nos custa.

2:11 da tarde  
Blogger polegar said...

conheço essa sensação de tras para a frente...

3:08 da tarde  
Blogger Mikado said...

Life goes on!

4:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Curioso, li há pouco tempo um post muito interessante num outro blog, sobre o que é a "verdade" e como viver com as várias "verdades"! Pessoalmente ja passei por situações com algumas semelhanças a esta, e tudo se resume à velha questão de meter-se entre marido e mulher... Decidi que já tenho problemas que chegue na minha vida, para ir meter-me na dos outros... ;) Beijinho

Tay

7:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O meu namorado diz sempre - Mais vale viver numa triste verdade do que numa alegre mentira.... Eu não gostava de ser uma pateta alegre...
Mas niguém gosta de "casandras" niguém gosta das pessoas que nos contam as verdades verdadeiras que doem muito, portanto a decisão é dificil... Luz é o que desejo
Marina

4:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Meus únicos conselhos para o consultante: o filme De Tanto Bater o Meu Coração Parou e o disco Construção de Chico, onde aliás se encontra esta
Valsinha:

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.

:

6:03 da tarde  
Blogger Lady said...

Concordo com o ao_sul, o mais provável é ela já saber e pensar que as outras pessoas não sabem ou não querer que elas saibam! Não costumam ver as Donas de casa desesperadas?

11:13 da manhã  
Blogger animus said...

tinha este endereço guardado num cd de há algum tempo, um backup que fiz de um antigo computador. na verdade, nunca tinha lido - guardei para ler depois. voltei, li, e claro, gostei (muito)

9:47 da tarde  
Blogger pinky said...

Cada umm sabe de si....
se o rapaz é mesmo amigo, dá uma bela dica do que se está a passar e vai estar lá de pedra e cal para p que der e vier.
Se a moça quiser perceber a dica, perce, se não quiser não percebe, ela é que sabe da vida dela!
E não há cenas dos próximos capítulos?
Buaaaaaaaa.....

10:07 da tarde  
Blogger panamá said...

Eu prefiro não apurar verdades! Não sou nenhuma heroína, muito menos ambiciono provar alguma coisa seja a quem for! Enquanto nada de errado eu souber que se passa, tudo muito bem! O pior é mesmo quando o errado transborda e assola-me o sentimento: Mas porque raio teria eu que saber esta merda! Enfim, formas de ser/estar na vida, nesta vidinha! Um beijão, minha jóia:)

4:25 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home