O café não engana
Não digo que não tenham sido umas boas férias, porque foram. Gostei de lhe apresentar a Cidade e de a levar a ver os detalhes que os turistas não vêem. Como o outro lado do mercado egípcio, onde se vendem as melhores especiarias e os tecidos tingidos à mão. Ou os velhos banhos turcos, aquecidos a lenha e com paredes brancas da cal. Ou as antigas mesquitas, ainda de fora dos roteiros das agências de viagem.
Fez-me rir, como sempre, enquanto olhávamos a Cidade a partir do rio e atravessávamos a ponte, um pé na Ásia, outro na Europa. Foi sempre assim, aliás. Sempre me fez rir, ao contrário das outras, que mais dia, menos dia, acabavam por me entediar, com os inevitáveis ataques de romantismo. Talvez por isso, também, sempre me deixou confuso, sem saber para onde caminhávamos. Cheguei a perguntar-lhe, mas o “Vamos ver” da resposta ainda me deixou mais a Leste, portanto fiz isso mesmo, deixei andar. Ainda mais depois do homem do Mercado Egípcio lhe ter dito que as borras do café prognosticavam que pouco mais haveria de acontecer, que o homem ao seu lado não queria compromissos. E eu, que nunca acreditei em astrólogos e muito menos em borras do café, agarrei a ajuda o melhor que pude e deixei-me ficar, sem compromissos, a curtir a Cidade e a curti-la a ela, e aos seus risos e aos seus comentários, que às vezes me assustam, porque vêem mais longe do que eu alguma vez chegarei.
Já voltámos há algumas semanas, mas continuo sem saber para onde quero ir. Se calhar o tipo das borras do café tinha razão. Se calhar sou só eu que tenho medo do que poderei descobrir por detrás da inteligência do seu olhar. Em todo o caso, vou-me deixando ir. Só não sei é porque é que me falta a coragem de cada vez que agarro no telefone para marcar o número dela. Não sei, mas, à cautela, volto a guardá-lo e adio para o dia seguinte.
Fez-me rir, como sempre, enquanto olhávamos a Cidade a partir do rio e atravessávamos a ponte, um pé na Ásia, outro na Europa. Foi sempre assim, aliás. Sempre me fez rir, ao contrário das outras, que mais dia, menos dia, acabavam por me entediar, com os inevitáveis ataques de romantismo. Talvez por isso, também, sempre me deixou confuso, sem saber para onde caminhávamos. Cheguei a perguntar-lhe, mas o “Vamos ver” da resposta ainda me deixou mais a Leste, portanto fiz isso mesmo, deixei andar. Ainda mais depois do homem do Mercado Egípcio lhe ter dito que as borras do café prognosticavam que pouco mais haveria de acontecer, que o homem ao seu lado não queria compromissos. E eu, que nunca acreditei em astrólogos e muito menos em borras do café, agarrei a ajuda o melhor que pude e deixei-me ficar, sem compromissos, a curtir a Cidade e a curti-la a ela, e aos seus risos e aos seus comentários, que às vezes me assustam, porque vêem mais longe do que eu alguma vez chegarei.
Já voltámos há algumas semanas, mas continuo sem saber para onde quero ir. Se calhar o tipo das borras do café tinha razão. Se calhar sou só eu que tenho medo do que poderei descobrir por detrás da inteligência do seu olhar. Em todo o caso, vou-me deixando ir. Só não sei é porque é que me falta a coragem de cada vez que agarro no telefone para marcar o número dela. Não sei, mas, à cautela, volto a guardá-lo e adio para o dia seguinte.