sábado, outubro 22, 2005

Férias

Há viagens assim, que têm tudo para ser A Viagem. Durante três semanas este blog vai andar a passear no outro lado do mundo, numa aventura há muito esperada e desejada.
Até logo.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Labirintos

As mão a tremerem, um friozinho no estômago (há quem garanta que são borboletas que lá vivem e de vez em quando acordam), os dedos que não atinam com as teclas e, finalmente, a verde, ali a olhar para mim, marco, não marco? marco. Agora já está. Mesmo que não atenda, fica lá o número registado, por isso já não há volta. Malditas novas tecnologias! Antes a malta ia à cabine da esquina, ligava dez vezes, se fosse preciso, e depois jurava a pés juntos que nunca tinha sequer saído do sofá.

Não atendeu. Agora é esperar. Esperar. Um chá para aquecer, que já começa a estar frio. Esperar. Maldito telemóvel, mudo que nem uma porta. Vou desligá-lo, que assim dou ar de desinteressada. Não, é melhor não. Mas por que raio não me atendeu? Estaria no banho? No trânsito? No cinema? Com alguém? Com a ex? Pronto. Desligo mesmo o telefone. Afinal quem é que ele pensa que eu sou, alguma idiota aqui feita parva no sofá à espera que se digne a ligar-me?

Desligo daqui a pouco. Entretanto faço umas torradas. Fumo um cigarro. Não, isso não, que deixei de fumar. Por momentos esqueci-me. Mas agora apetecia-me mesmo. Não é que esteja nervosa, claro. Só estou curiosa.

Nunca lhe devia ter ligado. Que burra que sou! Agora vai achar que estou mortinha por estar com ele, que o ando a perseguir ou qualquer coisa do género. Vou enfiar-me na cama. Esquecer isto tudo. Ups... Telefone!! E agora? O que é que eu digo? Olá, olá... sim, liguei... foi a tecla do replay, sabes como são estes telemóveis, esqueci-me de o bloquear. Não, não era nada, a sério. Aliás devo ter adormecido no sofá, já é tardíssimo, não é? Beijinhos, até amanhã.

Agora vou ali atirar-me da janela e já volto...

segunda-feira, outubro 17, 2005

Rostos


















Ciganos do Alentejo

São meninos, mas têm olhos de adultos. Posam muito sérios para a fotografia e depois aproximam-se quase a medo da máquina digital e pedem: "oh vizinha, deixe-me ver, isso sou mesmo eu?" Só então abrem o rosto num sorriso antes de virarem as costas, já desinteressados, com um inesperado "obrigado", como se lhes tivesse dado alguma coisa. E se calhar dei, mas muito mais me deram eles a mim.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Hormonas & caipirinhas

De repente, alguém em quem nunca tinhamos sequer reparado, aparece ali ao lado a fazer saltitar as hormonas. As nossas, entenda-se. E nem sequer é Primavera. E o gajo nem sequer fez nenhuma operação plástica, nem perdeu a barriga, nem fez um implante de cabelo. Nada. É o mesmo de há dez anos e já ouviu a lista completa das nossas desilusões amorosas. Até já nos viu com aquela roupa interior a cair de velha no dia em que dormimos juntos porque não havia mais camas disponíveis lá em casa.

Nunca nos passou pela cabeça, mas as hormonas ou feromonas, ou seja lá o que for, trocam-nos as voltas e de repente damos por nós enrolados no banco do carro, a tentar furiosamente evitar a alavanca das mudanças e o travão de mão. Depois, porque há coisas mais interessantes para fazer, subimos as escadas sem falar e ignorando a vizinha do lado que espreita pela porta. E nem nos preocupamos por naquele dia não termos lavado o cabelo nem depilado as pernas. É assim. Um dia. Umas horas. E está tudo perdido.

No dia seguinte damos por nós a acordar ao lado do gajo que costumava ser o nosso melhor amigo. As hormonas já se calaram, temos uma borbulha na testa, a boca sabe a cortiça por causa do vinho tinto do jantar e das 24 caipirinhas e ele voltou a ser careca e a ter a barriga de quem não põe os pés num ginásio há anos. Pior ainda: assalta o nosso frigorífico e tem o desplante de dizer que a lasanha que a mãe dele faz não tem comparação com a que lá está, sobra de um outro jantar num qualquer dia da semana anterior.

Quid juris?

Garfiar

Já há muito tempo que está ali na minha colecção de links, mas quem ainda lá não foi faça o favor de ir. Rápido. É que vale mesmo a pena. O Garfiar só me apetece, é uma delícia. Este "diário inter-estelar ou a vida na sarjeta ou um liquidador tributário ao abandono ou outra coisa qualquer" tem dos melhores diálogos da blogosfera e uma prosa de fazer inveja. A sério. Estou fã. Vão lá e depois contem-me.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Chocolate

Foi uma mão suja e enrrugada, de unhas enegrecidas pela porcaria acumulada, que entrou pela janela do carro. Olhou-me com desconfiança quando lá depositei o chocolate e depois espreitou novamente para a sua própria mão, enquanto tentava perceber o que escondia o papel colorido. Quando voltou a olhar-me, abriu de repente num sorriso desdentado de menina que, quase seria capaz de o jurar, por uns segundos foi um verdadeiro sorriso feliz.
Ficou ali, no meio da rua, debruçada a investigar o inesperado presente, e eu segui, como se tivesse feito uma grande coisa, estupidamente contente comigo própria, a cantarolar uma canção qualquer que passava no rádio. Segui, confortável dentro do meu carro, enquanto, lá fora, a chuva recomeçava a cair, indiferente à solidão da mulher de oitenta anos que vive nas ruas.
Se pudesse trazia-a para casa.
(Se pudesse ou se quisesse?)

domingo, outubro 09, 2005

Esplanar

Através da Rita, descobri que o Esplanar voltou ao activo. É o blogue de João Pedro George, um crítico literário de estilo implacável e, se nalguns casos não posso concordar com ele (por exemplo quando escreve sobre Javier Marías), na maioria das vezes leio com a maior atenção (e admiração) os seus posts. O último, sobre Margarida Rebelo Pinto, é uma delícia, de tão exaustiva, acutilante e documentada é a crítica que faz ao trabalho desse grande vulto da literatura nacional. Outro post a não perder, é a bela entrevista ao grande Luiz Pacheco (neste caso, o entrevistado deu certamente uma grande ajuda, mas o resultado é excelente). Nem quero pensar o que diria o JPG sobre o meu "pobre" t&v, mas, felizmente, suspeito que não há o menor perigo de algum dia lhe merecer alguma crítica.

Coisas boas da vida

Acordar de manhã ao som da chuva e ir a correr para o jardim, ainda com a (sexy) camisa de dormir, para ter a certeza que não estou a sonhar. Passei o resto do dia a saltitar de contente com o regresso da água e do cheiro da terra molhada. Isto de ser neta de agricultores tem destas coisas: agora a malta já pode lavrar a terra e fazer a sementeira. Quase um ano depois do último dia de chuva, foi uma bela comemoração.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Reserva emocional

É indispensável. Ligamos-lhe quando estamos mais em baixo e precisamos de alimentar o ego, ou quando nos falta companhia para aquele jantar de amigos da faculdade que estão todos casados e cheios de filhos, ou para ir ao cinema, ver o último dos filmes piegas e cor-de-rosa, ou mesmo quando é preciso levar o carro à oficina porque está na altura da revisão anual...

As hipóteses são imensas e dependem dos dias e da vontade. Da vontade, sobretudo, porque na verdade não o queremos atrelado a nós a toda a hora e a telefonar de cinco em cinco minutos. Na verdade não o queremos. É um bom amigo, claro, mas quando falamos nele às amigas, dizemos "coitado, é um querido, mas falta-lhe ali qualquer coisa". E, no entanto, é imprescindível.

É a nossa reserva emocional, prontinha para actuar como pronto-socorro sempre que uma mulher precisa. Em alguns (muitos)casos, a reserva emocional é também uma espécie de reserva romântica: o tipo que, em caso de fim de uma relação ou falta de namorado há demasiado tempo, pode sempre ser chamado para o activo. E entretanto, deixamo-lo em armazém, muito bem acondicionadinho na prateleira do fundo.

Claro que não é coisa que se confesse a ninguém, e muito menos ao próprio, mas, mulher que não tenha um, que atire a primeira pedra.

domingo, outubro 02, 2005

Último dia de praia do ano



São sete da tarde e ainda está calor. Quase trinta graus, talvez. A tempratura da água está quase igual e o sol, que começa lentamente a baixar, confunde o céu com o mar e com a areia. É uma luz que transmite imensa paz, à medida que entro na água, para o último mergulho do verão que já acabou.