quinta-feira, março 30, 2006

Deve ser da Primavera...

... mas hoje apetecia-me estar em Paris. E Paris lembra-me sempre desta foto do grande Robert Doisneau. Deve ser da Primavera, deve. E não é fácil lidar com isso em dia de PRACE.


terça-feira, março 14, 2006

Ágata

Mandou o advogado telefonar-me. Estou mandatado pelo meu cliente para lhe tratar do divórcio, e eu entaramelada, já só a pensar nas crianças e em quando é que chegaria a carta do tribunal de menores, a dizer que sou uma má mãe e que os meus filhos não podem ficar comigo. Faça o favor de me dar o contacto do seu advogado, porque daqui para a frente é a justiça que há-de resolver tudo, e eu atarantada, sem advogado, sem saber onde desencantar um, só a pensar nos miudos e no cão e na estúpida canção da Agata, podes ficar com a casa, o carro, o raio que te parta, mas não fiques com eles, as coisas que nos vêm à cabeça quando de repente já não sabemos de que terra somos. E se não tem advogado é bom que o arranje, que este divórcio há-de ser tudo menos fácil para si e ainda se há-de arrepender muito das voltinhas que andou a dar por fora, e eu já com as chaves do carro na mão, pronta a disparar para Queluz e para a escola dos miudos, para nos metermos todos à estrada até um sítio qualquer onde não tivesse que o voltar a ver e onde não chegasse o braço comprido da Lei com que me estavam a ameaçar. Desliguei sem saber o que disse e ainda não percebi onde fui arranjar forças para me sentar no primeiro degrau que vi à frente a chorar todas as lágrimas do mundo. Depois, meti-me no carro pelo IC19 e enquanto chorava baixinho cantarolava a puta da canção. Os meus filhos estavam lá, à minha espera, na porta da escola e trouxe-os para casa, como noutro dia qualquer. O pai está lá em cima, no quarto, a dormir. Também como noutro dia qualquer. Amanhã não sei como vai ser.

segunda-feira, março 13, 2006

Mais uma prova

"É a mais recente atracção da Avenida da Liberdade, em Lisboa. Um casal de corujas do mato e duas crias habitam nas árvores existentes em frente ao Hotel Tivoli. As duas crias nasceram há três semanas, abandonaram entretanto o ninho e dormem durante todo o dia num galho de árvore a cerca de 15 metros de altura. A dois metros, a mãe dorme noutro ramo. Assim, passam os dias indiferentes à grande agitação que ocorre cá em baixo, com a circulação diária de milhares de carros e pessoas."

Para quem ainda tinha dúvidas, aqui está mais uma prova: a Primavera chegou mesmo e ninguém lhe resiste.

A novidades saiu hoje, nesse grande jornal que dá pelo nome de Correio da Manhã e onde ficamos também a saber que D. Policarpo critica patrõe maus pagadores, que o presunto tem reino em Mação e que Almodovar volta a casa (para além de informação sobre 429 crimes, acidentes de automóveis, roubos e julgamentos que agora não vêm ao caso).

Mais abaixo, informa-se ainda que segundo Ricardo Tomé, que é membro da Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves, o macho há-de andar por perto, provavelmente noutro ramo da árvore. "Os animais possuem uma cor que os confunde com a tonalidade dos ramos e não permanecem sempre na mesma árvore", mas o olho clínico do porteiro do Tivoli deu com elas e disse ao reporter que nunca tinha visto nada assim.

Eu também não. E é bom saber que Lisboa ainda assiste a partos detes.

Foto: Natália Ferraz

domingo, março 12, 2006

Chegou...

Chegou hoje. Antes do tempo, mas cheia de graça e de sol, aí está ela, a Primavera. Vinte e tal graus e um dia de praia como se fosse Verão foi quanto bastou para que o tuga saísse à rua. Os fatos de treino fora do armário e lá foram, felizes da vida, entupindo a marginal e o estacionamento esburacado da praia de Carcavelos. Barriga ao léu, sagres na mão, filhos a tiracolo, cães pela trela, era vê-los, que nem lagartos, estendidos no areal cheio de lixo que o Inverno acumulou. E nem a água gelada assustou os mais afoitos, ansiosos por mostrar o novo calção justinho à perna ou biquine da moda encomendado pela la redoute. É a Primavera, pois então. Soltam-se as hormonas e os parzinhos de namorados perdem-se em beijos e apalpões no areal, indiferentes aos miúdos que jogam à bola e ressuscitam às raquetes do ano passado, espalhando areia por todo o lado. Tatianazinha, isso não se faz, cuidado com os senhores, Bernardo, venha cá à mãe que o menino ainda apanha uma pneumonia, oh valha-me Deus. E a Tatianazinha e o Bernardo, surdos que nem uma porta, a correr praia fora, deixando os paizinhos à beira do ataque de nervos, a salpicar de areia a senhora das madeixas loiras e bota de salto alto que ontem se esqueceu de ver a meteorologia na televisão. Depois o regresso à cidade, a fila de carros na marginal, o sol a pôr-se no rio, Lisboa linda de morrer. Afinal, há lá coisa melhor do que o primeiro dia de Primavera?

segunda-feira, março 06, 2006

Gajas...

Durante anos vivi numa casa só com mulheres. Uma residência universitária. Na altura ainda não se juntavam rapazes e raparigas, embora eles passassem a vida a fazer-nos visitas que frequentemente se prolongavam pela noite e até de manhã. Quem tinha a sorte de ter um quarto só para si - as finalistas - tinha um pouco mais de privacidade, mas a sala de convívio e a cozinha eram comuns, portanto passávamos a vida a dar de caras umas com as outras. E a discutir. E a comentar a vida umas das outras e umas com as outras.

Coisas de gajas. E tudo servia para discutir ou para comentar. Os homens, claro. A falta de gosto de uma, as mini-saias-cinto da outra, a do quarto 234 que disse mal da vizinha do lado, a outra que deixava a loiça suja durante semanas, a de farmácia que tinha mau hálito, a de letras que ia para cama com todos. Depois, à hora do jantar, lá estávamos, felizes e sorridentes, enfiadas nos livros na altura dos exames, amigas para a vida, se fosse preciso.

Desses tempos só me ficou uma amiga. Às outras perdi-lhes o rasto, talvez porque nunca mais fui capaz de confiar nelas. Demasiadas mulheres juntas dá nisto. É verdade, a frase é do mais machista que há. E suponho que nem sequer tenha de ser sempre assim, mas comigo foi. A experiência voltou a repetir-se no meu primeiro emprego, onde só havia um homem e uma dez mulheres, e em várias outras ocasiões, durante mais ou menos tempo.

O assunto é recorrente, mas quando querem as mulheres conseguem ser as maiores filhas da puta umas para as outras. Somos mais competitivas umas com as outras, raramente resistimos a uma boa cusquice e quando há um homem no meio aí as coisas ficam ainda piores. Desperta-se o demónio que há em cada uma de nós e lá vamos. Levamos tudo pela frente e a desgraçada que se meter no meio pode ter a certeza que tem os dias contados.

Depois até pode ser que nos arrependamos, mas nunca, mesmo nunca, o reconheceremos. Se calhar também mandamos o tipo dar uma volta, porque descobrimos que não nos interessa e que é um idiota chapado, mas enquanto não conseguimos o que queremos não descansamos.

Outro caso sério é quando aquela imbecil do quinto andar tem o azar de vir dizer mal da nossa melhor amiga. Está feita. Porque também conseguimos ser fiéis às nossas amizades - desde que não apareça um homem pelo meio, porque aí não ponho as mãos no fogo por ninguém.

Claro que a dose de filhadaputisse varia e o empenho que pomos no assunto também, mas a coisa está-nos nos genes. Há as que partem a loiça toda, as mais reservadas que só contam às amigas, as outras ainda que só escrevem no diário, mas quem nunca passou por uma destas, que venha e atire a primeira pedra...

quinta-feira, março 02, 2006

Onde é que se meteu a Primavera?


Estou farta do Inverno. Farta do frio. Farta das roupas de Inverno. As manhãs cinzentas deixam-me deprimida para o resto do dia e é uma tortura abrir o armário para tentar novamente decidir qual das camisolas quentes vou vestir. Quero o sol de volta. As manhãs na praia, os dias inteiros na praia. Quero rapidamente o meu primeiro dia de praia do ano, as minhas camisolas decotadas, os chinelos de enfiar o dedo e a mini-saia dos fins de semana.

E o pior é que nem me apetece ir experimentar as novas colecções que andam por aí a espreitar nas montras, lindas, maravilhosas e tentadoras, porque depois chego a casa e não posso vestir nada e fico ainda mais deprimida a olhar para o roupeiro para escolher novamente qual a camisola quente que vou usar. Alguém sabe onde se enfiou a Primavera?