terça-feira, maio 31, 2005

A duas vozes (cont.)

ELA

Telefonei-lhe. Agora está feito e pronto. Descobri por acaso o telemóvel escrito à mão nas costas do cartão e liguei na hora do almoço quando não havia ninguém no escritório. Ficou admiradíssimo, claro, eu eu toda entaramelada, já sem saber o que havia de dizer e a inventar desculpas sobre uma vírgula qualquer numa das cláusulas do contrato. Deixei-o preocupado, porque me propôs logo que nos encontrássemos mais tarde, para rever tudo. Estranhei que tivesse sugerido uma esplanada, mas com o calor que estava hoje até achei boa ideia e lá fui eu, depois de um quarto de hora de afobação a disfarçar as borbulhas e a tentar atinar com o baton adequado para a roupa que trazia vestida. Senti-me um bocado idiota, mas pronto. E afinal não serviu para nada. O homem estava cheio de pressa, falou de trabalho o tempo todo e desta vez já não lhe achei tanta graça. Ainda lá estava o sorriso bonito, mas não demonstrou o menor interesse em voltar a ver-me, apesar de me ter pedido o telemóvel, não vá o diabo tece-las e aparecer mais alguma virgula num sítio impróprio. Nestas coisas a minha intuição não falha: é gay, de certeza absoluta. Como é que o Jaime me foi falhar logo numa altura destas? Se calhar não é o tipo dele, deve ser isso. Que raiva! E eu tão preocupada com o baton e com as borbulhas. Ao menos pagou o café, vá lá, mas eu não me livrei de apanhar uma molha porque no caminho de volta desatou a chover furiosamente. Foi a gota de água! Muitas gotas, aliás! Foi a humilhação total! Acabou-se. Quem me manda a mim cair ao primeiro par de olhos sorridentes que me aparece à frente????

ELE

Telefonou-me! Eu sabia. Nestas coisas nunca falho. Veio com uma desculpa esfarrapada sobre o contrato que eu já tinha revisto e estava impecável, mas fingi que fiquei preocupado e levei-a a tomar café à minha esplanada favorita para engates em fase inicial. Caem todas que nem patinhos quando lhes começo a falar da vista e do rio e outras balelas do género. Foi uma bela jogada, porque desta vez já lhe comecei a achar mais piada. Ía acenando que sim a tudo o que ela dizia e aproveitando para anotar mentalmente os pormenores. O decote, mais exactamente, que é sempre um pormenor de grande importância. A esplanada deu resultado, mais uma vez, e tenho a certeza que a coisa está garantida. mais uns telefonemas, um convitezito para jantar, tudo dentro das regras, e está no papo. Pedi-lhe o telemóvel, porque pode aparecer mais algum problema no texto final do contrato - como se aquilo não estivesse já visto e revisto - e já apostei um almoço no Gambrinus em como no fim de semana ela aceita ir lá a casa ver a bela da colecção de borboletas (apostei comigo próprio, não estejam já a pensar coisas!).

domingo, maio 29, 2005

A duas vozes

ELA

O homem tem um daqueles sorrisos bonitos que nos fazem esquecer da palavra que iamos dizer a seguir. Uma maçada, sobretudo quando o encontro é de trabalho e é preciso manter um ar profissional. Se fosse a Rita ou a Joana, ou outra das minhas amigas, tinha-se lembrado logo de ver se ele tinha aliança, mas eu nem me passou tal coisa pela cabeça. Limitei-me a babar literalmente durante a hora e meia de conversa - quinze minutos de trabalho e o resto sobre a vida em geral. Depois tive cinco minutos de delírio, a imaginar-me no meio de um filme do tipo se não tivesse apanhado aquele metro, feito aquele telefonema, etc. etc., nunca o teria conhecido e nunca teria encontrado o homem da minha vida,e por aí fora, estão a ver? A seguir veio o pensamento número dois: deve ser gay, só pode. Será? Telefonema para o Jaime, que já o conhece, e fiquei mais descansada. Não é gay, não senhor, que dessa química percebe ele, o Jaime, e não houve hormonas a saltitar nem setas no ar quando foram apresentados. Suspiro de alívio e regresso ao delírio por mais alguns minutos antes de voltar para o trabalho e cair na realidade do escritório cheio de gajos mal encarados, chatos que se farta e todos casados e enjoados da mulher e das crianças. Por isso é que às vezes é preciso lavar as vistas, assim numa espécie de exercício de sobrevivência. E babar um bocadinho. Claro que a Rita, chamada de urgência para debater o assunto, colocou logo a pergunta chave: e ele, também babou? Não sei. Acho que sim. Ou estarei a imaginar coisas e a baralhar as pistas? Na volta nunca mais o vejo. Na volta nem gostou de mim. Ai, valha-me Deus, que esta vida às vezes é mesmo complicadinha...

ELE
Reunião de trabalho muito produtiva. A outra empresa enviou uma novata, que se entaramelou toda na conversa e consegui alterar várias claúsulas do contrato, enquanto lhe tirava as medidas e ía pensando se valeria a pena levá-la para a cama. Tanto corou e se atrapalhou nas palavras que quase aposto que essa hipótese também lhe passou pela cabeça. De certeza que não é casada, porque elas nunca tiram a aliança, mesmo quando são todas modernaças, e se fosse isso também não seria problema. No entanto, ando numa altura em que não quero saber de compromissos sérios, por isso talvez seja melhor não me meter em confusões. E ela, pelo género, deve ser do tipo que se começa logo a ver a subir ao altar e outras merdas afins. Uma pena, porque não vai nada mal. Assim como quem não quer a coisa, dei-lhe o meu telemóvel. Aposto como me liga um destes dias. Aliás, pensando bem, espero que ligue. Era uma pena não a voltar a ver. A menos que eu esteja enganado e não tenha percebido os sinais... Não. Impossível! Caramba, que já pareço uma mulher, a complicar tudo!!

sexta-feira, maio 27, 2005

Dúvida existencial

Porque é que há homens que são tão divertidos e óptimos amigos, mas quando estão ao lado das namoradas ou das mulheres mudam radicalmente e se tornam nuns verdadeiros imbecis?

terça-feira, maio 24, 2005

Borboletas


 Posted by Hello

(Imagem roubada aqui)

Tenho saudades de me sentir apaixonada. De voltar a dormir com borboletas a saltitar na barriga. De me deitar nuns braços quentes e de acordar com um sorriso ao lado. Tenho saudades de ter saudades de alguém que não vejo desde a manhã. E de ouvir uma voz a dizer que me quer, de um braço à volta dos meus ombros a prometer que há uma estrada novinha em folha para percorrer e uma folha A4 para encher de cores.

E sabes, T&V, no momento em que escrevo isto, lá fora uma estrela caiu no céu de Lisboa. Era uma estrela cadente que desapareceu mesmo antes de tocar os pilares da ponte e de mergulhar no Tejo.

Hoje, além de saudades do amor, estou com saudades dos tempos em que acreditava que uma estrela cadente realizava todos os nossos desejos.

segunda-feira, maio 23, 2005

Podíamos ver-nos mais vezes...

O homem sorri, meio tímido, meio curioso, inesperadamente diferente do que se esperaria de um tipo com mais de 40 anos, que já não é suposto ter os receios de um miudo de quinze que pela primeira vez convida a colega da escola para ir ao cinema. Sorri e segura-lhe no braço. Não diz nada, mas também não a deixa ir embora. São três da manhã e os seguranças da discoteca olham para a cena com ar divertido. Imagiam, provavelmente que será um casal de namorados e que ele quer apenas convence-la a ficar mais um pouco, tal é a intimidade com que lhe segura no braço e depois lhe agarra a mão. Ela espera, perguntas nos olhos, e, finalmente, tudo o que sai é um "podiamos ver-nos mais vezes". Não lhe pediu o número de telefone, não a convidou para sair, nada, só este "podíamos ver-nos mais vezes". E ela, muito despachada, "claro que sim, havemos de ver-nos mais vezes, afinal para o ano a Ju faz anos outra vez e volta a convidar-nos. Agora é que tenho mesmo que me ir embora". O homem foi para casa acabar com o resto da garrafa de Jameson, amaldiçoando a raça feminina que acha que eles aguentam tudo e se esquece que também têm medos e inseguranças e essas merdas todas. Cruéis como o caraças quando não estão para aí viradas. E esta nem é nada de jeito, que raio! Quem é que ela pensa que é?

Delicioso...

... este blog. Vão lá espreitar que vale a pena. Estou farta de me rir com o belo do Sinclair Seagull que vive em Porto Santo e tem um fraquinho gigante por... Ok, vão lá ver. E, depois, passem também por aqui e leiam a mini entrevista ao autor.

domingo, maio 22, 2005

BENFICAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ai tão lindos que estavam os meninos, camisolas de fora, a comemorar. Ai, ai, que até estou sem palavras. Onze anos é tempo que se farta, já merecíamos e pronto, está feito e venha lá uma semana de feriados para comemorar. Com um bocadinho de sorte nem sequer ninguém dá conta que a comissão Constâncio vai oficializar o défice de 7% e que na quarta-feira o Governo vai subir os impostos. E depois, o que é isso, perante um Benfica campeão nacional? Nada, pois claro. Vão ver a curva do indicador de confiança dos consumidores a disparar já nas próximas estatísticas do INE. Era disto que o País precisava. Afinal somos 14 milhões e tudo bons pais de família!!!


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 Posted by Hello

Amor

Vestido de noiva a rigor, branco, claro, saia rodada, drapeada, comprida. Colar de prata com uma pequena pérola, brincos a condizer. E o penteado? como o farei? E os sapatos? Tenho de encontrar aquelas sandálias maravilhosas que vi em Londres e que cá não há em lado nenhum. Os convites estão a ser feitos, mas ainda não arranjei tempo para fazer a lista de convidados. Os meus amigos, os dele, a família, não sei se hei-de convidar aquela tia chata que chora sempre imenso, mas se calhar vai ter de ser. O meu pai não há-de querer vir, mas não faz mal, entro de mão dada com a minha filha. Também já comprei o fato que ele vai usar. Fica fantástico, lindo, fabuloso. Custei a convence-lo, porque queria ir de calças de ganga e t-shirt, mas lá consegui. Vamos ser felizes para sempre, tenho a certeza. Bem sei que tinha jurado que não me voltaria a casar, depois do trabalho que me deu o divórcio, dos quilos de kleenex, das noites sem dormir a pensar que a minha vida acabava ali. Bem sei que tinha prometido a mim mesma não voltar a cair no mesmo erro, mas não quero saber. Quero tudo aquilo a que tenho direito. E desta vez é que é. Tenho a certeza. Desta vez serei feliz para sempre. Está escrito nas estrelas, nas palmas das mãos, nas cartas do tarot que nunca li. Está escrito em todo o lado para onde me volte, desde que ele esteja lá.

(Graças a Deus, a memória das mulheres é muito selectiva, por isso nunca perdemos as forças para perseguirmos os sonhos.)

quinta-feira, maio 19, 2005

Dúvida existencial

Nós compramos sapatos vermelhos, marcamos hora no cabeleireiro e telefonamos às amigas todas.
E eles?
Os tais, de olhos azuis que riem tão bem e nos deixam com dores nos musculos da cara devido àquele permanente sorriso idiota, que fazem eles? que pensam?

quarta-feira, maio 18, 2005

Uma miuda sente-se gira...

... quando chega a casa com um par de sapatos vermelhos de salto alto novinhos em folha e passeia com eles pela casa à meia noite, acordando o vizinho-músico-pimba-do-andar-de-baixo que a acorda às sete da manhã a ensaiar a última música do Tony Carrera.


 Posted by Hello

(ai o dano que fazem à carteira uns olhos azuis que se riem de maneira tão perfeitinha e nos deixam com um sorriso de orelha a orelha durante várias horas...)

segunda-feira, maio 16, 2005

Segurança Social

- Boa tarde. Venho falar com o senhor ministro.
A mulher do lado de lá da secretária continua a fazer o seu crochet, dá-lhe uma olhadela de lado e pergunta se tem entrevista marcada.
- Não tenho. Mas venho falar-lhe na mesma.
Perante a resposta decidida, ela pousa a agulha e o novelo e digna-se a olhar para o homem de fato e gravata e ar zangado que está à sua frente. Perante a firmeza do olhar, decide-se a pegar no telefone e a ligar para as secretárias, no sétimo andar do edifício.
A resposta é não, que há uma agenda, que não se recebe ninguém sem marcação e, já agora, qual é o assunto, e como é que se chama, de onde vem e para onde vai?
- Acabei de passar cinco horas na Segurança Social, no Areeiro, onde me dizem que o meu processo desapareceu, que está parado, que a responsável tem mais do que fazer do que estar a receber todos os desempregados que lá aparecem, que tenho de esperar e eu que já espero há demasiado tempo, não me importo de esperar o tempo que for preciso, mas não saio daqui sem falar com o ministro.
Disse tudo de uma enfiada, mãos nos bolsos para ninguém as ver tremer e sentou-se numa das poltronas de cabedal a fingir no hall no edifício da Praça de Londres.
Nessa altura já o crochet estava esquecido e todos os porteiros e motoristas se tinham reunido à volta da contínua e do inesperado visitante.
Lá de cima, as secretárias continuavam sem dar sinal de vida.
Uma hora depois, passa um homem com um processo debaixo do braço
Duas horas depois o telefone da contínua dá sinal: - Diga ao senhor que espere mais um pouco.
Duas horas e meia depois mandaram-no subir para uma sala do sétimo andar com vista corrida sobre a cidade. Ofereceram-lhe água, café, e finalmente um homem e uma mulher entraram na sala: o chefe de gabinete do ministro e uma das assessoras.
Ele continuou a esconder o tremor das mão enquando desfiava a sua história. Uma história igual a tantas outras, um emprego que terminou no final do contrato a termo, um ano em que não pôde procurar trabalho porque esteve gravemente doente, um processo que desapareceu, muitos requerimentos por escrito, muito ofícios enviados da província, para onde teve de ir viver em casa dos pais, um bug informático que fizera desaparecer metade dos seus dados, funcionários mal educados e desinteressados porque a eles todos os meses a segurança social paga o salário.
- Não venho pedir nada. Venho exigir que resolvam o meu caso e desbloqueiem o subsídio a que tenho direito. Só isso.
O chefe de gabinete e a assessora ouvem em silêncio. À sua frente, por obra de um qualquer passe de mágica, está o seu processo, o tal que, tantas vezes lhe disseram, andava perdido, atingido por um fulgurante bug dos computadores. Fazem perguntas. Querem saber pormenores, detalhes. O homem vai descontraindo. Conta tudo, obejctivamente, sem acusações, que os factos falam por si.
Surpreende-se com a disponibilidade dos interlocutores. Mal consegue ainda acreditar quando lhe dizem que é óbvio que houve erros dos serviços, que provavelmente haverá muitos casos como o seu, que fez muito bem em ir ali, porque são esses erros que o ministério quer conhecer e detectar, que é para isso que está lá o novíssimo governo. O subsídio em falta chegará no final do mês, garantem. Foi um prazer conhece-lo, o Estado não o abandonou, que o Estado é um estado socialista.

Ainda não sabe se o subsídio virá mesmo no final do mês, mas dois dias depois já a assistente social da sua área de residência o estava a contactar para marcar uma entrevista. O processo, o tal que havia desaparecido, está agora a ser seguido pela directora do centro local da segurança social e, em mais um passe de mágica, foi elaborado um plano ocupacional, que lhe permitirá começar a trabalhar no início do próximo mês e a sentir-se útil ao mundo, com direito à manutenção do subsídio e a dias livres para ir a entrevistas de emprego.

Continua desempregado, mas agora acredita um pouco mais no mundo. E diz a si próprio que nunca mais deixará que lhe tremam as mãos quando estiver a lutar pelos seus direitos.

(P.S.: tenho muito orgulho de ti!)

quinta-feira, maio 12, 2005

Sugestão de leitura


 Posted by Hello

Ada ou Ardor
de Vladimir Nabokov

Um livro delicioso. Seiscentas páginas que não apetece parar de ler porque Nabokov escreve de uma forma única, tranforma situações banais em romance, enche as páginas de metáforas, encontra as palavras certas para tudo, seja para o amor, para o sexo, para a raiva ou para as misérias humanas.
Uma leitura absorvente mas, ao mesmo tempo, nada fácil. Às vezes dou por mim a voltar atrás, a reler páginas anteriores, para melhor perceber as outras. Mas é um livro para apreciar, absorver em pequenas doses, para não perder nada.

(Hoje de manhã, na Benard, eu de livro na mão a pagar na caixa o meu café matinal, e pergunta-me a empregada, sorriso rasgado de quem encontrou a alma-gémea-para-os-livros, Está a gostar? É maravilhoso, não é? Li-o numa semana! E eu de sorriso amarelo, porque já ando nisto há um mês, sempre a andar para trás e para a frente para apanhar tudinho e perceber o livro, Sim, é muito bom, é...)

terça-feira, maio 10, 2005

Shangai by night


 Posted by Hello

O problema de ir ao outro lado do mundo e voltar em quatro dias é que as horas ficam todas viradas do avesso. Um pormenor sem importância quando trazemos na bagagem imagens de uma cidade fabulosa, de pessoas tão diferentes e tão cativantes, de um país que nada tem a ver com o nosso e onde tanto ficou por descobrir. Tenho de lá voltar, está decidido!

quinta-feira, maio 05, 2005

Maravilhas da tecnologia

Que tempos fantasticos estes em que e possivel voar a muitos metros de altitude, atravessar ate ao lado de la do planeta e, entretanto, ir surfando na net (na verdade eu estava era a ver O Fantasma da Opera nos videos, mas a minha vizinha do lado mandou-me parar de cantar, nao sei porque). Lamentavelmente o teclado nao tem acentos (ou sera assentos? acho que ja comeco a estar afectada pelo jetejegue), mas nao se pode ter tudo. Enfim, as vezes gosto mesmo do meu trabalho...

terça-feira, maio 03, 2005

Será preocupante?

Dez da manhã. Estou atrasada para o trabalho, como acontece todos os dias, quando o telefone toca. Atendo e, enquanto ponho a nova sombra azul bebé a dar com a saia e disfarço a puta de borbulha que me cresceu na testa, entalo o telemóvel no pescoço e vou falando com a Cris. Tomo o leite e a torrada, lavo os dentes, mudo o telemóvel para o outro lado para evitar um torcicolo, verifico o conteúdo da mala, alimento os gatos e saio de casa. A conversa telefónica continua animadíssima, porque há muito tempo (desde ontem, mais exactamente) que não nos falamos e há imensas coisas para actualizar. Saio de casa, guardo a chave, caminho até ao Metro e a conversa já vai para aí em meia hora, mas não faz mal, que é a empresa dela que está a pagar. De repente, o pânico! Onde está o meu telemóvel? Abro a mala e, com a única mão livre, vou tirando tudo lá de dentro, desesperada porque o telefone não está lá e eu não vivo sem ele, porque há-de haver alguém que me quer falar e depois como é que vai ser? São dez e meia, estou cada vez mais atrasada, mas decido voltar para trás. Quando já estou a entrar em casa, a Cris diz que tem de desligar e eu digo que sim, que é melhor, que até já tive de voltar a casa porque me esqueci do telemóvel e de repente dou-me conta da terrível verdade: tenho o telemóvel na mão, sempre tive, e estou igualzinha à minha avó, que corria a casa toda à procura dos óculos que tinha encavalitados no nariz.

Avisei a Cris que se contasse o pequeno episódio matinal a alguém era uma mulher morta, mas suponho que ela não ouviu, porque, vá-se lá saber porquê, não conseguia parar de rir...