domingo, maio 29, 2005

A duas vozes

ELA

O homem tem um daqueles sorrisos bonitos que nos fazem esquecer da palavra que iamos dizer a seguir. Uma maçada, sobretudo quando o encontro é de trabalho e é preciso manter um ar profissional. Se fosse a Rita ou a Joana, ou outra das minhas amigas, tinha-se lembrado logo de ver se ele tinha aliança, mas eu nem me passou tal coisa pela cabeça. Limitei-me a babar literalmente durante a hora e meia de conversa - quinze minutos de trabalho e o resto sobre a vida em geral. Depois tive cinco minutos de delírio, a imaginar-me no meio de um filme do tipo se não tivesse apanhado aquele metro, feito aquele telefonema, etc. etc., nunca o teria conhecido e nunca teria encontrado o homem da minha vida,e por aí fora, estão a ver? A seguir veio o pensamento número dois: deve ser gay, só pode. Será? Telefonema para o Jaime, que já o conhece, e fiquei mais descansada. Não é gay, não senhor, que dessa química percebe ele, o Jaime, e não houve hormonas a saltitar nem setas no ar quando foram apresentados. Suspiro de alívio e regresso ao delírio por mais alguns minutos antes de voltar para o trabalho e cair na realidade do escritório cheio de gajos mal encarados, chatos que se farta e todos casados e enjoados da mulher e das crianças. Por isso é que às vezes é preciso lavar as vistas, assim numa espécie de exercício de sobrevivência. E babar um bocadinho. Claro que a Rita, chamada de urgência para debater o assunto, colocou logo a pergunta chave: e ele, também babou? Não sei. Acho que sim. Ou estarei a imaginar coisas e a baralhar as pistas? Na volta nunca mais o vejo. Na volta nem gostou de mim. Ai, valha-me Deus, que esta vida às vezes é mesmo complicadinha...

ELE
Reunião de trabalho muito produtiva. A outra empresa enviou uma novata, que se entaramelou toda na conversa e consegui alterar várias claúsulas do contrato, enquanto lhe tirava as medidas e ía pensando se valeria a pena levá-la para a cama. Tanto corou e se atrapalhou nas palavras que quase aposto que essa hipótese também lhe passou pela cabeça. De certeza que não é casada, porque elas nunca tiram a aliança, mesmo quando são todas modernaças, e se fosse isso também não seria problema. No entanto, ando numa altura em que não quero saber de compromissos sérios, por isso talvez seja melhor não me meter em confusões. E ela, pelo género, deve ser do tipo que se começa logo a ver a subir ao altar e outras merdas afins. Uma pena, porque não vai nada mal. Assim como quem não quer a coisa, dei-lhe o meu telemóvel. Aposto como me liga um destes dias. Aliás, pensando bem, espero que ligue. Era uma pena não a voltar a ver. A menos que eu esteja enganado e não tenha percebido os sinais... Não. Impossível! Caramba, que já pareço uma mulher, a complicar tudo!!

3 Comments:

Blogger *ci* ramoss said...

Engraçado que somos mesmo assim: sempre cada um pensando de uma forma, mas aquele negócio chamado amor sempre dá um jeitinho de nos aproximar... Bjos.

3:17 da manhã  
Blogger Margarida Atheling said...

De mestre! ;)

Bjs!

9:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Excelente post!! Aliás, como já me habituaste a ler aqui...

1:31 da tarde  

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