terça-feira, agosto 30, 2005

Férias

A partir de hoje, tornou-se oficial:

Preciso de férias!!!

Férias do trabalho.
Férias de Lisboa e dos turistas que entopem as esplanadas.
Férias do Metro cheio de gente que não toma banho e não sabe o que são anti-transpirantes.
Férias da tasca aqui da frente e do salmão grelhado e das sardinhas assadas e das febras ressequidas.
Férias dos colegas de trabalho que ainda não foram de férias.
Férias dos que já voltaram e estão com stress pós-férias ou então super activos.
Férias dos incêndios e das notícias sobre o Soares candidato a Belém.

Preciso de umas férias que me deixem em estado zen, de papo para o ar, numa praia sem turistas, a olhar para anteontem e com dez livros na bagagem, mesmo que não leia nenhum.

Pronto. Está feito o desabafo. Agora tenho de regressar ao trabalho.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Pequenos pormenores sem importância

Ele:
Nunca hei-de perceber por que raio insistes tu em guardar todos estes exemplares da Grande Reportagem se sabes que nunca mais os vais ler na vida. Isto e mais a colecção de números 1 de jornais e revistas que já abriram e já fecharam e já ninguém se lembra deles.

Ela:
Pois eu percebo. E percebo também por que razão há cinco anos nos separámos, apesar desses teus olhos verdes e do sexo bom e da casa com uma sala sobre o rio onde eu queria instalar uma biblioteca e tu querias construir um ginásio. Por momentos, a memória selectiva e os teus olhos verdes quase me fizeram esquecer do resto.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Maravilhas do Algarve

Quatro horas de viagem e graças a Deus que agora há auto-estradas, senão era uma tarde inteira. Assim até se fez bem, apesar de não dar para passar dos 100 porque havia muita gente a ir para baixo. Apanhei uns senhores polícias muito simpáticos, que devem ter achado imensa graça ao meu Micra, porque me mandaram parar e, estranhamente, ignoraram os volvos que me ultrapassaram a torto e a direito. Também lhes devem ter escapado os vários SLK daqueles que se colam ao carro da frente e vão de Lisboa a Portimão sempre com o pisca esquerdo ligado. Coitados, é excesso de stress, só pode.

Seja como for, valeu a pena. A Praia da Rocha está uma maravilha. Aliás, há imensos portugueses a pensar o mesmo. E ingleses também. A prova é que a rua principal lá do sítio estava apinhada e lugar para estacionar o carro nem vê-lo. Enfim, não faz mal, que assim sempre se queimam umas calorias até chegar à praia. Consegui pôr o pé na areia antes das onze da manhã e era de certeza o meu dia de sorte porque também consegui um lugarzito para o chapéu e para a toalha, mesmo coladinho a um casal muito simpático com dois cães e cinco filhos maravilhosos que sabiam as canções todas dos Morangos com Açucar (os filhos, entenda-se, que os cães ladravam imenso mas desafinavam um bocado).

A água estava uma maravilha, ligeiramente turva, mas quase nem se dava por isso. E, com este sol fantástico, percebe-se que os ingleses continuem a gostar tanto de vir passar férias ao Algarve. Havia por lá imensos, com uma belíssima cor rosada, a dar para o vermelho, aliás, encarnado lagosta, que deve ser supersexi lá na terra deles.

E, depois, há aquele senhor das bolas de berlim que faz lembrar a nossa infência mesmo que as bolas estejam um bocadinho mais gordurosas e o creme tenha uma estranha cor de laranja (deve ser uma receita nova que eles arranjaram). Lá matei as saudades e ainda bem que ele apareceu, porque nessa manhã depois de ter estado duas horas na bicha, perdão, na fila, para a padaria, quando chegou a minha vez tinham-se acabado os papossecos e já não consegui fazer as sandochas para a praia. Claro que se eu quisesse, bastava estender a mão e tirar uma do saco dos vizinhos do lado, mas eu não sou pessoa para essas coisas.

Resumindo, foi um belíssimo dia de praia. Foi pena as três horas que levei a tirar o carro do estacionamento, se eu soubesse tinha ficado mais um bocadito, mas, aqui entre nós, já estava ligeiramente farta dos miudos e dos cães e dos ingleses lagostas e do homem das bolas de berlim e das bolas das raquetes e dos aviões a sobrevoar a praia com publicidade à Fatacil e da água turva e da toalha do gajo do lado colada à minha e dos olhares imbecis do outro da frente que não parava de olhar para o meu biquine e dos olhares furiosos da mulher dele a espreitar por cima do 24 Horas e da Praia da Rocha em geral.

Foi um belíssimo dia de praia. Inesquecível, sem dúvida.

Iniciativa feminina

Estou muito apaixonada, sabes... ele chama-se Gonçalo e é muito querido, muito fofinho, tem olhos azuis e é loiro e nem é burro nem nada, vê lá tu. Anda comigo na piscina e nada tão bem, tão bem, que eu até fico parva e ontem trouxe-me um CD dos D'ZRT, que ele gravou sózinho no computador. Aproveitei para lhe dizer que gostava dele, mas disse-me que eu já sou a terceira a dizer o mesmo e depois fugiu. Agora ando a ver se lhe dou um beijinho. A mãe diz que uma menina só com oito anos não faz essas coisas, mas eu não me importo, porque acho que ele é tímido e uma mulher tem que ser capaz destas coisas, não achas? E nos Morangos com Açucar elas não têm problemas desses e têm mães todas modernas. Por isso não digas nada à minha mãe, senão ela já não me dixa convidá-lo para os meus anos, está bem?

sexta-feira, agosto 12, 2005

Ecografia

Sexta-feira, final do dia, véspera de fim-de-semana. Ela liga-lhe.

- Ainda ficas aí muito tempo?
- Não, não, amor. Estou mesmo de saída. Hoje tenho aquele jantar da entrega dos prémios, lembras-te? Tenho estado a prepar o discurso, a ver se sai uma coisa assim informal, sem muitos salamaleques, se bem que vai lá estar o presidente do clube, aquele que me atribuição a menção honrosa por ter conseguido fazer os 18 buracos, e também tenho estado a pensar que roupa é que hei-de vestir, porque fato e gravata se calhar é demais, não achas?
- Hoje fui ao médico...
- Ah, pois é. Mas estava tudo bem, que eu já sei. Basta olhar para a tua cara maravilhosa de futura mamã. Mas diz-me, achas que leve gravata? E ouve um bocadinho do discurso...
- É rapaz.
- Qual rapaz! o Homem tem uns sessenta anos, pelo menos. Mas convém paparicá-lo, que nunca se sabe. Estou a pensar em referir o seu nome logo aqui no segundo parágrafo, que te parece?
- O teu filho. É um rapaz.
- ... (silêncio)
- Fui fazer a ecografia. Fiquei à tua espera no café lá em baixo durante horas. Até me atrasei para a consulta. E é um rapaz. O médico perguntou-me porque estava sózinha, porque não estava lá o pai do meu filho, a segurar-me na mão, a olhar com medo e alegria para o pequeno ecran onde ele jura que se vê mesmo uma pilinha. Perguntou-me tudo isso com os olhos, porque na verdade nada me disse. A não ser que é um rapaz. Que vai ser lindo. Que nasce daqui a cinco meses.
- Desculpa, amor. Sabes que eu te amo. Desculpa. Prometo que vou para casa mal acabe o jantar. E vamos comemorar, por isso vê lá se não adormeces. Lá para as duas estou em casa, sem falta.
- ... (silêncio)

Fim do telefonema.

ELE, para a secretária:
- Marta, arranja-me, por favor, uma listagem com os melhores colégios internos do País. Sim, agora! Não quero saber que seja sexta-feira e estejas de saída.

ELA, para o espelho:
- Porque é que cada vez me custa mais a lembrar o que me levou a apaixonar por este homem?

sábado, agosto 06, 2005

Tuguices

Entrevista na TSF a um ilustre ciclista da nossa Volta a Portugal em bicicleta:

- Qual é para si o melhor ciclista de todos os tempos?
- Agora é o Armstrong. [bem visto, sim senhor.]
- E qual é o seu sonho?
- Chegar sempre mais longe [muito profundo. e compreende-se, pois se a Volta ainda agora começou]
- Quais são os seus hobbies?
- Ver futebol na televisão [pois...]
- Tem algum filme que seja o filme da sua vida?
- Ná...
- E livro?
- Ná...
- E disco?
- Ná...
- Qual é o seu clube?
- O FCP, carago! [mais palavras para quê?...]

Paranoias

Entraram os dois no Correio. Calças de fato, pólos azuis e chinelos de borracha. Barba negra, cerrada, e sacos de plástico do Modelo na mão. Sorri-lhes assim quase sem pensar, porque tenho este hábito de cumprimentar as pessoas de manhã, que me ficou dos tempos da província. Depois arrependi-me logo. E se fossem dois perigosos terroristas? Tinham todo o ar disso, aliás. E o que trariam no saco? Sorri-lhes e arrependi-me, porque a seguir vieram perguntar-me se tinha um polígrafo e ficou toda a gente a olhar com ar desconfiado, à espera que fossem fazer explodir a bomba que traziam dentro do saco. Sim, porque isto nunca se sabe. Ainda esta semana li no Diário de Notícias que a brigada antiterrorista da PJ foi chamada de urgência a Sintra quando encontraram um Corão em cima da secretária de um empresário libanês. E mais uma revista aberta numa página com um artigo sobre os atentados em Londres. E aquele livro do Hitler que, valha-nos Deus, felizmente é proibido neste nosso democrático País de tão brandos costumes. Tudo provas de que havia ali qualquer coisa, claro. Os vizinhos até vieram logo comentar que o empresário era muito estranho, que sempre tinham achado isso e se calhar até é amigo destes dois do Correio. E se a história saiu no Diário de Notícias, que é um jornal tão sério, é porque deve ser verdade. Foi isto tudo que me passou pela cabeça quando lhes estendi a caneta, a pensar no que iriam eles enviar pelo correio. Porque eles andam aí, toda a gente sabe, não é? Estes por acaso até foram muito simpáticos e cumprimentaram-me à saída, e tudo, mas com aquelas barbas negras e aquela pele tão escura, a gente nunca sabe, não é?

(Para quem não leu, a notícia saiu mesmo no DN. Deu para umas belas gargalhadas matinais. Mas fica-se a pensar até onde vai parar esta paranoia...)