segunda-feira, novembro 21, 2005

Pânico

Apareceu-me aqui em casa às três da manhã, depois de uma viagem interminável e de um passeio até Cascais, à boa maneira dos taxistas portugueses, mas com o sorriso de sempre, o mesmo que lhe conheci do outro lado do mundo e me deixou neste estado lastimoso.

Durante três dias não consegui falar, esquecida do inglês, concentrada apenas na outra linguagem universal que não quer saber das barreiras da língua, esquecida de avisar no escritório que estava doente, o doutor a ligar-me furioso e eu a ignorar o telemóvel e as ameaças de despedimento.

Ao quarto dia acordei e agora não sei o que lhe faça. Não sei o que me faça a mim, porque estas coisas não me acontecem, só fazem parte das histórias dos outros e dos romances de cordel que eu lia aos doze anos às escondidas da minha mãe.

Não sei o que faça às borboletas, nem à minha vidinha virada do avesso, com alguém que chegou e se instalou e está para ficar, que me faz o jantar, me telefona dez vezes por dia e me diz que sou a mais bonita.

Às vezes tenho saudades de quando tínhamos não sei quantos continentes pelo meio e apenas esperava que as horas coincidissem para nos encontrarmos na Net. Porque nessa altura, como no início de qualquer bom romance de cordel, ainda o meu coração estava inteiro.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Lost in Australia

A ideia era apenas aprender inglês, porque as palavras não me saiam quando era preciso atender algum cliente estrangeiro lá no escritório. Foi assim que comecei a falar com ele na Net. Horas e horas, todos os dias, uma história de amor dos tempos modernos, sempre à distância, sempre em segredo, escondida até da melhor amiga, porque isso de conhecer gajos no ciberespaço é só para os outros. Por isso todos se admiraram com estas férias a 25 horas de distância, no outro lado do mundo, e logo eu que nem faço surf, que nunca me aguentei mais de cinco segundos em cima de uma prancha, que raio ia eu fazer para o país dos cangurus, uma ilha gigantesca para onde os ingleses desterravam os criminosos, tão a sul que nunca ninguém se lembraria de lá ir passar férias? Mas eu fui. E agora que voltei as borboletas não me largam o estômago.