quinta-feira, julho 20, 2006

Férias à tuga


Durante uma semana vai ser assim.Ao sol.
Com livros, areia, conquilhas para apanhar ao nascer do dia, esplanadas para ler os jornais, calções e chanatas, telemóvel ligado só à noite (esta não sei se consigo, mas vou tentar).
Uma semana só para mim, sem despertadores, nem computadores, nem relógios, nem televisão.
Uma semana inteirinha.
(Só faltam três dias...)

terça-feira, julho 18, 2006

Livro aberto

Este miudo é um livro aberto. Mesmo antes de nos contar já nós todos sabíamos, porque ele não esconde nada. Vai por ali fora, ri, chora, apaixona-se, desapaixona-se, é cheio de ideias feitas, de certezas e de inseguranças. Muda de ideias a duzentos à hora, volta a mudar e volta às suas certezas. Faz-me rir e às vezes fico com vontade de lhe dar beijinhos e de lhe prometer que o mundo nunca é tão mau como parece e que só é preciso olhar para ele de frente e com honestidade. Não digo, porque acho que, no fundo, ele já sabe.

Este miudo tem um sorriso grande, como ele, que também vai ser grande.

Este miudo, que escreve (mesmo!) muito bem é a mais recente aquisição do T&V.

segunda-feira, julho 10, 2006

Post egocêntrico

Começou há dois anos com o Soneto da Separação e com o poeta a dizer que "de repente do riso fez-se o pranto", "de repente, não mais que de repente". Começou numa semana triste em que, apesar do quente do Verão, "fez-se do amigo próximo o distante, fez-se da vida uma aventura errante, de repente, não mais que de repente".

Começou com Vinicius, o grande. Com versos que diziam o que eu não era capaz de dizer.

E nestes dois anos ri e chorei muitas vezes, sonhei que era feliz, mas não era, depois soube que sim, que era, que fazemos grandes coisas que são insignificantes, que isso da felicidade são momentos, só momentos. Mas que se querem muitos. E que, como na canção, é preciso a tal vontade de ir, que "nasce do fundo do ser, uma vontade de ir, correr o mundo e partir".

Nestes dois anos tive medo muitas vezes, perdida nos corredores de um hospital. Tive medo e não foi por mim, mas o medo era tão grande que enchia todos os dias e todas as horas. Esse medo passou e vieram outros. Medos de estar só, medos de não ser capaz, medos de não saber, medos de não viver.

E veio também o resto. Sucessos conseguidos a pulso, amigos que ficaram para trás, amigos que vieram de novo, amigos novos que aqui continuam.

Veio um põr-do-sol em Outubro e veio um amanhecer numa baía verde onde o mar há milhares de anos fez nascer gigantes de pedra. Também esses trouxeram medos, mas tão pequeninos que estão escondidos e quase nunca dou por eles.

Foi preciso ir ao outro lado do mundo para perceber que toda a vida tinha esperado por aquele amanhecer.

Passaram dois anos desde que este blog nasceu. E eu, que desde os 30 deixou de me apetecer festejar aniversários, hoje apetece-me soprar estas duas velas. Por mim (ou não fosse este um post egocêntrico), por todos os meus amigos que nem sabem que o T&V existe, por aqueles que sabem e de vez em quando aqui vêm. Por todos os que não me deixam sentir sózinha. E pelo amanhecer na baia verde do lado de lá do mundo onde volto todos os dias.

sexta-feira, julho 07, 2006

Uma Graça



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“Voltar a Lisboa é voltar aqui, ao sítio de Lisboa que tem a melhor de todas as vistas sobre a cidade”. João nasceu na Graça, viveu por ali até uma qualquer volta da vida o mandar para Paris, mas mal põe o pé na Capital, não descansa enquanto lá não vai. Ao seu miradouro, o tal que tem a melhor vista sobre a cidade, onde se sente finalmente em casa.
A Graça é assim mesmo. Presta-se às saudades, a tal palavra inventada em português que deixa sempre uma vontade de voltar. Mesmo aos turistas que lá chegam, de máquinas fotográficas e Lonely Planet em punho, a tentar descobrir, lá de cima, o que se vê lá em baixo.
À esquerda, a encosta do Castelo, paredes cheias de histórias e árvores de um verde escuro a contrastar com o azul do rio, mesmo ali ao lado. Em dias de céu sem nuvens, da Graça vê-se também a margem sul do Tejo, atrás dos pilares da ponte, com o seu Cristo de braços abertos. E a paisagem continua, numa rotação de 180 graus de casario, hotéis modernos misturados com velhas igrejas, prédios pombalinos ao lado de recentes projectos arquitectónicos, lá ao fundo as abóbadas da Basílica da Estrela a convidar a mais um passeio.
E, no entanto, o que apetece é ficar por ali. A vista é sublime e um lugar na primeira fila da plateia de mesas é um privilégio. Às vezes as colunas de som do quiosque da esplanada enchem o ambiente com os acordes de Tom Jobim ou a sublime voz de Mariza. Outras vezes, à hora certa, são os sinos da Igreja do Convento, mesmo ali ao lado, que nos entram pelos pensamentos e nos transportam para outros tempos e para outras histórias. Um e outro, tão diferentes, à sua maneira combinam com Lisboa.
Mais para a direita, na colina do lado, um outro pedaço de vista: é a Senhora do Monte, com uma igualmente deslumbrante paisagem sobre a cidade, e com uma pequena capela perdida no tempo. É dedicada a São Gens, o santo padroeiro das grávidas, e lá dentro há uma cadeira centenária onde, diz a tradição, se devem sentar as futuras mães para assegurarem um parto sem sobressaltos. Ali, na Senhora do Monte, falta, no entanto, a esplanada do miradouro, as mesas e cadeiras onde podemos ficar horas e horas sem quem ninguém reclame e, mais, o pequeno quiosque, que serve tostas mistas de pão saloio e um bolo de chocolate capaz de fazer esquecer qualquer dieta.
Na esplanada da Graça há de tudo. Há os habituées, que estão lá religiosamente ao sábado de manhã a ler os jornais, há os estudantes que preparam os exames, há famílias a aproveitar o fim do dia, há os inevitáveis turistas e há, sobretudo, uma vista fabulosa sobre Lisboa. Um refúgio."
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P.S.: A foto em cima é de Miguel Costa e veio daqui, onde há uma belíssima fotoreportagem sobre Lisboa

quinta-feira, julho 06, 2006

Sugestão de leitura

As Loucuras de Brooklyn
Paul Auster
Edições ASA

"(...) quando uma pessoa tem a sorte de viver dentro de uma história, de viver dentro de um mundo imaginário, as dores deste mundo desaparecem. Porque, enquanto a história dura, a realidade cessa de existir. (...)" pág. 156

Lisboa

Belíssimo blog, sobre a mais bela das cidades. E não só...
Por um fio

terça-feira, julho 04, 2006

Da minha janela

A minha janela abre-se sobre a cidade. Desligo todas as luzes, adivinho mais do que vejo as teclas do computador, e lá vou eu. Daqui posso viajar até ao rio, passar a ponte, inventar o que existe para lá da igreja da Penha, entrar pelas janelas dos hotéis, passar para o lado de lá da colina e sentar-me no miradouro da Graça.

O meu avô, que nasceu no século XIX e viajou até à Alemanha, um entre milhares de portugueses enviados para a I Grande Guerra, que conseguiu voltar e depois viveu até quase aos 90 anos num monte perdido no meio do Alentejo, contava-me histórias onde habitavam cavalos que corriam mais velozes do que o pensamento e por isso viajavam por todo o mundo. Com a minha janela é assim. Posso voar para onde quero, atrás das luzes da cidade. Posso até viajar até à Lua, que hoje olha para mim, lá de cima, e entra pela minha janela dentro.

Da minha janela sobre a cidade, contemplo um bocadinho do mundo e invento o resto. Dantes achava que não conseguiria viver sem esta vista, sem este espaço imenso que se abre à minha frente e que me faz sentir a mais feliz das alentejanas que Lisboa adoptou. E, no entanto, agora sei que não.

Dentro de um mês a minha janela será substituída pelo meu jardim. Um limoeiro, uma laranjeira, uma ameixeira, duas árvores cheias de anos e de histórias de que ainda não sei o nome. Mais as roseiras que lá hei-de plantar, o rosmaninho e a salva e o mangericão. E lá, tenho a certeza, hei-de sentir-me novamente a a mais feliz das alentejanas que Lisboa adoptou.

O meu avô havia de gostar do meu jardim.