sexta-feira, julho 07, 2006

Uma Graça



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“Voltar a Lisboa é voltar aqui, ao sítio de Lisboa que tem a melhor de todas as vistas sobre a cidade”. João nasceu na Graça, viveu por ali até uma qualquer volta da vida o mandar para Paris, mas mal põe o pé na Capital, não descansa enquanto lá não vai. Ao seu miradouro, o tal que tem a melhor vista sobre a cidade, onde se sente finalmente em casa.
A Graça é assim mesmo. Presta-se às saudades, a tal palavra inventada em português que deixa sempre uma vontade de voltar. Mesmo aos turistas que lá chegam, de máquinas fotográficas e Lonely Planet em punho, a tentar descobrir, lá de cima, o que se vê lá em baixo.
À esquerda, a encosta do Castelo, paredes cheias de histórias e árvores de um verde escuro a contrastar com o azul do rio, mesmo ali ao lado. Em dias de céu sem nuvens, da Graça vê-se também a margem sul do Tejo, atrás dos pilares da ponte, com o seu Cristo de braços abertos. E a paisagem continua, numa rotação de 180 graus de casario, hotéis modernos misturados com velhas igrejas, prédios pombalinos ao lado de recentes projectos arquitectónicos, lá ao fundo as abóbadas da Basílica da Estrela a convidar a mais um passeio.
E, no entanto, o que apetece é ficar por ali. A vista é sublime e um lugar na primeira fila da plateia de mesas é um privilégio. Às vezes as colunas de som do quiosque da esplanada enchem o ambiente com os acordes de Tom Jobim ou a sublime voz de Mariza. Outras vezes, à hora certa, são os sinos da Igreja do Convento, mesmo ali ao lado, que nos entram pelos pensamentos e nos transportam para outros tempos e para outras histórias. Um e outro, tão diferentes, à sua maneira combinam com Lisboa.
Mais para a direita, na colina do lado, um outro pedaço de vista: é a Senhora do Monte, com uma igualmente deslumbrante paisagem sobre a cidade, e com uma pequena capela perdida no tempo. É dedicada a São Gens, o santo padroeiro das grávidas, e lá dentro há uma cadeira centenária onde, diz a tradição, se devem sentar as futuras mães para assegurarem um parto sem sobressaltos. Ali, na Senhora do Monte, falta, no entanto, a esplanada do miradouro, as mesas e cadeiras onde podemos ficar horas e horas sem quem ninguém reclame e, mais, o pequeno quiosque, que serve tostas mistas de pão saloio e um bolo de chocolate capaz de fazer esquecer qualquer dieta.
Na esplanada da Graça há de tudo. Há os habituées, que estão lá religiosamente ao sábado de manhã a ler os jornais, há os estudantes que preparam os exames, há famílias a aproveitar o fim do dia, há os inevitáveis turistas e há, sobretudo, uma vista fabulosa sobre Lisboa. Um refúgio."
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P.S.: A foto em cima é de Miguel Costa e veio daqui, onde há uma belíssima fotoreportagem sobre Lisboa

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Escreve e pinta mais refúgios. Está, no mínimo, genial! És GRANDE!

3:05 da tarde  
Blogger por um fio said...

É lindo este miradouro. Este e o da Senhora do Monte são também os meus miradouros preferidos. Foi neste último que fiquei «enfeitiçada» por Lisboa e pela pessoa que lá me levou e, assim, me «aprisionou».
Belissimos refúgios! Belissimos sítios para nos «perdermos» de nós próprios na mais pura das contemplações. Os fins de tarde nestes sítios têm uma magia única!

6:27 da tarde  
Blogger João Barbosa said...

pois, agora acho mesmo que temos alguém em comum: o João! eheheheheheh! Tenho a certeza.
Quanto ao resto e ao que afinal importa: belo texto, gostei de ver a cidade pelas tuas palavras.
beijinhos com alguém em comum.

6:24 da manhã  
Blogger João Barbosa said...

quer dizer... não sei se há amigos em comum, mas pareceu. desculpa se me engano... o miradouro da graça é um encanto. se eu partisse também lá ia se voltasse.

10:07 da tarde  
Blogger mena said...

não te enganaste :)

12:48 da manhã  
Blogger João Barbosa said...

:-) falamos umas vezes de milagres e outras vezes de sabedorias doutoradas? pareceu-me ter lido por aí que conheceste o meu blog por um Diogo...

10:09 da manhã  
Blogger mena said...

o nosso filósofo, pois então :)

1:50 da tarde  

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