Viver de amores
Não morreu de amores, claro, até porque disso, já se sabe, ninguém morre, mas ganhou um brilho diferente nos olhos. Qualquer coisa muito próxima da loucura, que o faz, de repente, no meio de uma qualquer inócua conversa sobre o tempo ou sobre os últimos lances do Cristiano Ronaldo, falar sobre o magnífico cabelo da Sandra. Ou sobre os olhos azuis em que costumava perder-se. Ou sobre aqule jeito dela, de lhe encostar a cabeça no ombro quando iam ao cinema. Ao início, os amigos fingiam que não reparavam e continuavam apressadamente a conversa, saltando para os feitos do Mourinho ou para os azares do Benfica. Agora, delicadamente, lembram-se que têm de ir à casa de banho, ou que estão atrasados para um jantar em casa da sogra. Ou então vão buscar mais um copo e ficam à conversa com outro amigo qualquer. Ele não se chateia. Nem liga. Olha à volta, à procura de mais uma cara conhecida, e lá vai, porque há sempre muito o que contar sobre a Sandra. Muitas coisas boas para lembrar e para voltar a contar, até à exaustão, a quem ainda tenha coragem para ouvir.
O Bruno sempre foi diferente. Vagueava algures, num mundo onde poucos conseguiam chegar, mas não havia quem não gostasse dele no grupo que naquele ano entrou para a universidade. A sua popularidade era inversamente proporcional à da Sandra, que nunca passava despercebida em sítio nenhum, mas que colecionava antipatias. Entre as mulheres, porque sim, entre os homens porque o permanente ar de superioridade deitava por terra mesmo os egos mais fortes e nenhum estava para a aturar. Só o Bruno. E, por ela, o Bruno foi até ao fim do mundo. Mudou de cidade. Mudou de emprego. Casou-se de fato e gravata e deixou de ver os amigos, mesmo quando algum fazia os 300 quilómetros que os separavam. Nunca tinha tempo. Todo o seu tempo era dela.
E, depois, não se aguentou com o choque. Não conseguiu descobrir como havia de continuar a viver quando ela lhe disse que já não lhe apetecia, sem quê nem porquê, só porque não. Não soube o que fazer, mas teve de se desenrascar, porque a vida continuava, mesmo sem a ele lhe apetecer. E só encontrou uma saída: fingir que ela tinha morrido e, com ela, tudo o que de mau lhe tinha acontecido a ele nos últimos anos.
O Bruno sempre foi diferente. Vagueava algures, num mundo onde poucos conseguiam chegar, mas não havia quem não gostasse dele no grupo que naquele ano entrou para a universidade. A sua popularidade era inversamente proporcional à da Sandra, que nunca passava despercebida em sítio nenhum, mas que colecionava antipatias. Entre as mulheres, porque sim, entre os homens porque o permanente ar de superioridade deitava por terra mesmo os egos mais fortes e nenhum estava para a aturar. Só o Bruno. E, por ela, o Bruno foi até ao fim do mundo. Mudou de cidade. Mudou de emprego. Casou-se de fato e gravata e deixou de ver os amigos, mesmo quando algum fazia os 300 quilómetros que os separavam. Nunca tinha tempo. Todo o seu tempo era dela.
E, depois, não se aguentou com o choque. Não conseguiu descobrir como havia de continuar a viver quando ela lhe disse que já não lhe apetecia, sem quê nem porquê, só porque não. Não soube o que fazer, mas teve de se desenrascar, porque a vida continuava, mesmo sem a ele lhe apetecer. E só encontrou uma saída: fingir que ela tinha morrido e, com ela, tudo o que de mau lhe tinha acontecido a ele nos últimos anos.