Dez horas
Conheceram-se num avião, a muitos mil pés de altitude, a meio caminho de uma viagem desde o outro lado do mundo, sentados nos lugares da económica, pernas encolhidas, hospedeiras de olhar frio e superior, comida deslavada e um vizinho da frente que ressonou durante dez horas seguidas. Não teria sido melhor se tivessem viajado em primeira classe e lhes tivessem servido lagosta com champanhe, porque dez horas foram suficientes para saberem tudo um sobre o outro. Se calhar porque a altitude lhes destravou o cérebro, fez baixar as defesas e a vida ficava lá em baixo, demasiado distante para se lembrarem dela. Se calhar porque, sem o saberem, tinham esperado a vida toda por aquela viagem, sempre a contrariarem as teorias parvas de que algures por aí andaria a sua outra metade.
Dez horas que mudaram o mundo. Os seus mundos. Dez horas em que foram capazes de rir, de falar, de ouvir e de, simplesmente, ficar em silêncio, as núvens lá em baixo a esconder o mar, as estrelas ali à mão e, depois, o sol a nascer num festival de cores reflectidas nos olhos, mãos que nunca se tocaram porque não era preciso.
No fim, não houve despedidas. Havia a namorada à espera no átrio das chegadas, o marido e os filhos lá fora, no carro, a vida, cá em baixo, para continuar a levar, como sempre, como todos os dias. Não houve trocas de números de telefone nem promessas de novos encontros.
Dez horas que mudaram o mundo. Os seus mundos. Dez horas em que foram capazes de rir, de falar, de ouvir e de, simplesmente, ficar em silêncio, as núvens lá em baixo a esconder o mar, as estrelas ali à mão e, depois, o sol a nascer num festival de cores reflectidas nos olhos, mãos que nunca se tocaram porque não era preciso.
No fim, não houve despedidas. Havia a namorada à espera no átrio das chegadas, o marido e os filhos lá fora, no carro, a vida, cá em baixo, para continuar a levar, como sempre, como todos os dias. Não houve trocas de números de telefone nem promessas de novos encontros.
8 Comments:
A vida, às vezes, é assim estúpida!
Tantas vezes!!!
Tanto que chega a dar vontade de nos perguntarmos se a nossa vida - a vida a sério - não se resume a umas horas, vividas lá num momento preciso, e o resto é apenas vegetar.
Beijinhos!
Pode ser q os seus destinos s voltem a cruzar! Noutro espaço! Noutro tempo!
Muito fixe mais uma vez. Maybe in the next life...
Existem encontros que só são perfeitos por serem efémeros. Por sabermos que não existe a mínima hipótese de prolongar ou de repetir o mesmo momento. E devem permanecer assim.
Muito, muito bom.
abraço grande
Muito giro, mas confessa lá: estiveste a rever o "Lost in Translation" um destes dias na televisão...
tenho pena desses dois, porque sei a sensação de descobrir que se estava conformado com uma coisa... e saber de repente que há coisas muito certas lá longe. ficará o sabor amargo de não ter feito (mais) nada...
de qualquer das formas já reparei, cara t&v, que sei qual é a sensação de muitos dos teus textos... bolas, tocas cá fundo! (no bom sentido, claro, hem ;)
beijinhos e até ao próximo post.
A isto se chama: O sal da vida.... ;)
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