segunda-feira, dezembro 13, 2004

No cabeleireiro

"Estas pontas estão terríveis, querida! Não vem cá há séculos e veja ao que isto chegou!!!" O meu cabeleireiro, horrorizado, ía soltando uns gritinhos à medida que passava uma a uma as madeixas que eu finalmente consegui deixar crescer à custa de muitos sacrifícios. Senti-me como uma miúda de escola a quem a professora ameaça com umas reguadas por não ter feito os trabalhos de casa. "Temos de fazer aqui uma mudança radical", continuava ele, esganiçado. "E esta cor! O que lhe passou pela cabeça para pôr este castanho quase preto? Já viu que se notam muito mais as olheiras? Fica com um ar pesadérrimo!" Ainda balbuciei qualquer coisa, do género "não quero mudanças radicais", mas ele, do alto da sua autoridade, ignorou-me olimpicamente: "Ora ainda bem que estamos de acordo. Não fazemos mudanças radicais mas pomos aqui uma cor, umas madeixas ali, escadeamos deste lado, cortamos daquele..." E isto tudo enquanto me empurrava delicadamente para uma fantástica cadeira de massagens com uma fantástica vista para o rio e me punha nas mãos uma revista de penteados daquelas onde as modelos parece que apanharam todas com uma corrente de ar mas a quem os "despenteados" ficam lindamente. Obediente, entreguei-me às massagens e quase adormeci a ouvi-lo falar do último namorado e das férias maravilhosas que ambos passaram no mês passado em Roma. Três horas depois saí de lá, com menos cem euros na conta (valha-me Deus!) e um "modernissímo" corte de cabelo, com um tom a dar para o vermelho e várias madeixas realmente vermelhas espalhadas pela cabeça. Discretamente fui olhando para mim própria em todos os vidros com reflexo por onde ía passando e convenci-me que estava realmente linda e maravilhosa. Depois de chegar a casa continuei a tentar convencer-me mas aí, já com a luz necessária para devidamente apreciar a obra de arte, quase tive uma apoplexia. Nem os meus gatos me reconheceram! Ela não pára de miar à minha volta e ele escondeu-se prudentemente no roupeiro. Não sei se hei-de ir a correr ao supermercado comprar uma daquelas tintas maravilha que me devolverão o meu "castanho quase preto", se hei-de simplesmente enfiar-me debaixo dos lençois e só sair de lá depois do Natal, se hei-de arranjar coragem para sair de casa amanhã e, confiante, enfrentar o meu cabelo vermelho. Nunca hei-de entender esta minha incapacidade de dizer não ao meu cabeleireiro...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

QUERO VER!!! QUERO VER!!!
Não te atrevas a fazer SEJA O QUE FOR enquanto eu não vir!!!
deve estar fantástico! É tudo uma questão de hábito!!!! grandioso!!!!
Beijos
Gracinha

10:59 da manhã  

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