SMS
"Que é que fazes hoje à noite? queres ir ao cinema?". Uma SMS no telemóvel e um nome recuperado da memória, juntamente com um par de olhos verdes que achava que nunca conseguiria esquecer. Nos sonhos era assim, desde menina: olhos verdes, cabelos pretos, um sorriso lindo de morrer e uma paixão assolapada que havia de durar o resto da vida. Os olhos eram verdes, mas o cabelo era loiro e o sorriso às vezes era longe, como se só o corpo estivesse ali e o cérebro andasse noutro sítio qualquer. Devia ter desconfiado logo de início que a coisa não batia certa com o sonho, mas a paixão assolapada não deixou e a descoberta só a fez meses depois, quando a porta lá de casa se fechou e os olhos verdes, um bocadinho aguados com umas belas lágrimas de crocodilo, desapareceram de cena.
Voltaram hoje, atrelados a uma SMS no ecrã do telemóvel, e, surpreendentemente, não fizeram mossa. Nada. Zero. Também não lhe tremeu a mão quando marcou o número e lhe ligou de volta, que aquilo merecia mais do que uma mensagem escrita.
Estou bem, claro, e tu, também? que tens feito, nestes anos todos? ainda bem. O quê? És pai? meu Deus! nunca imaginei!! E também te rendeste ao casamento, que sempre juraste que não era para ti? É pena... As desilusões são sempre muito tristes. As perdas também. Mas um divórcio não é o fim do mundo, não é? Claro que te sentes sozinho, é normal, mas qualquer dia isso passa. Bem sei que pareço a minha mãe, mas o que mais interessa é ter saúde. Ups! Não imaginava, desculpa... E quando serás operado? Vai correr bem, tenho a certeza. Não desanimes. E qualquer coisa liga-me, está bem? Tenho pena, mas não posso mesmo ir ao cinema contigo. Fica para outro dia. Vai dando notícias, está bem?
Não tremeu quando desligou o telefone, mas passou os dias seguintes a pensar no homem dos olhos verdes que costumava ter uma agenda cheia de telefones de miúdas, que não passava uma noite sozinho, que queria ser rico e feliz e que agora estava divorciado, com um filho que só via ao fim de semana e uma operação ao coração daí a um mês e meio. A vida tem esta mania de nos contrariar os planos e de nos apresentar a factura quando menos a esperamos...
Voltaram hoje, atrelados a uma SMS no ecrã do telemóvel, e, surpreendentemente, não fizeram mossa. Nada. Zero. Também não lhe tremeu a mão quando marcou o número e lhe ligou de volta, que aquilo merecia mais do que uma mensagem escrita.
Estou bem, claro, e tu, também? que tens feito, nestes anos todos? ainda bem. O quê? És pai? meu Deus! nunca imaginei!! E também te rendeste ao casamento, que sempre juraste que não era para ti? É pena... As desilusões são sempre muito tristes. As perdas também. Mas um divórcio não é o fim do mundo, não é? Claro que te sentes sozinho, é normal, mas qualquer dia isso passa. Bem sei que pareço a minha mãe, mas o que mais interessa é ter saúde. Ups! Não imaginava, desculpa... E quando serás operado? Vai correr bem, tenho a certeza. Não desanimes. E qualquer coisa liga-me, está bem? Tenho pena, mas não posso mesmo ir ao cinema contigo. Fica para outro dia. Vai dando notícias, está bem?
Não tremeu quando desligou o telefone, mas passou os dias seguintes a pensar no homem dos olhos verdes que costumava ter uma agenda cheia de telefones de miúdas, que não passava uma noite sozinho, que queria ser rico e feliz e que agora estava divorciado, com um filho que só via ao fim de semana e uma operação ao coração daí a um mês e meio. A vida tem esta mania de nos contrariar os planos e de nos apresentar a factura quando menos a esperamos...
9 Comments:
O karma da vida? Tenho grande dificuldade em entender as contrariedades como facturas...
às vezes a gente fica arquitetando em detalhes certas vinganças e rancores, contra olhos verdes que nos deixaram ( ou azuis, ou castanhos) e, quando a vida nos apresenta enfim a vingança consumada a gente vê que não, não queria nada daquilo! E aí, o tempo não volta...
Temos pena, temos muita pena! Mas a vida é mesmo assim...um mimo de lúcida...e justa! Quem disse que era injusta? Bem, ok, a operação ao coração era dispensável...tadinho! Claro que não deixaria de ser um tainho! Mais uma vez aplaudo de pé, minha jóia! Obrigada pelo retrato do estereótipo;) beijocas e escreve mais, please!
A vida é assim mesmo, com altos e baixos. e ás vezes as pessoas que parecem mais felizes e promissoras sao as mais tristes.
bj
A serapação e a solidão que dela advém pode ser terrivel...mas também ser uma benção. É nacreditável que tudo tenha um lado bom.
Um abraço pelo regresso
Bem sei que os sentimentos de vingança não são nada bonitos, mas pelo menos nas estórias, apetece dizer "bem feito!".
Enfim... o problema de saúde não era necessário.
Bjs
Dás....recebes...é a lei. Beijos adorei marina
Como diria minha mãe: nada melhor do que um dia atrás do outro. E eu acrescentaria: com uma noite no meio. Esse conto me lembra uma situação parecida que aconteceu comigo, mas sem tanta tragédia assim.
Factura de quê? Parece que andou a fazer o que não devia e agora toma lá que é para aprenderes! Como se a vida funcionasse como a religião em que para cada pecado há uma penitência, um castigo!
Quantos não andam por aí a desejar ter um filho, um namorado e nada! Nesse caso que factura pagam?
Nas entrelinhas pareceu-me ler "Uf, pelo menos não foi comigo!" Estarei errado?
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