quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O fim da aventura

Quando a conheci não gostei dela. São aquelas manias tontas, ideias pré-concebidas sobre as morenas com madeixas, sempre enfiadas no cabeleireiro, e roupas acabadinhas de sair da Loja das Meias. Acho até que lhe respondi com o meu ar mais frio e distante ao olá matinal, no meio da sala cheia de gente onde todos eramos desconhecidos uns dos outros. Depois, ainda hoje não sei bem como, bastou uma semana para nos tornarmos inseparáveis. E passámos juntas um ano quase inesquecível. Um ano em que vivemos tudo o que não tinhamos vivido antes, ela porque cresceu muito cedo, eu porque cresci muito tarde. Apanhámos bebedeiras, passámos cinco noites por semana enfiadas na Kapital ou no Plateau, fizémos amigos que se perderam algures pelo caminho. Ela ficou e eu também. Nessa altura não ia dormir sem lhe telefonar, ou ela a mim, como duas adolescentes da secundária. Aturou-me os amores perdidos, as manhãs de ressaca, os dias de S. Valetim sem namorado. E quando era preciso, lá estava. Sempre.

Não sei quando deixou de estar. Pouco a pouco, os telefonemas foram rareando e de repente já era só eu que os fazia. Deixou de vir a minha casa e já era só eu que ia à dela. Deixámos de ir aos mesmos sítios, as noites na Kapital e no Plateau acabaram-se e já não era eu que estava lá para lhe aturar as bebedeiras, nem era ela que me ouvia os lamentos dos amores perdidos.

Sinto a falta dela. Perder uma amiga é pior do que perder um amor. A um namorado que se foi embora não telefonamos porque não nos apetece. A uma amiga perdida não telefonamos porque ela já não está lá.

11 Comments:

Blogger Isa said...

cumpriu o papel que tinha a cumprir na tua vida. segue em frente. há sempre os que ficam.

Gostei mto do ele/ela. Gosto mto dos teus posts em geral. acho que já te tinha dito...

Bjs

12:35 da manhã  
Blogger sónia said...

Gostei, é verosímil. Felizmente, nem sempre é assim! :)

1:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já tive amigas/os assim. Vão-se indo, como a paisagem vista do trem. E, pior que tudo, nem sabemos porque! Se somos nós no trem, indo pra longe, ou elas/eles, na estação, ficando...

2:22 da tarde  
Blogger maria said...

Os verdadeiros amigos estão sempre lá...nem que seja anos depois...os outros...foram importantes e afastam-se por circunstâncias da vida...mas se lhe ligas e não tem tempo para ti é porque há anos atrás tb não era assim tão tua amiga...pelo menos no meu conceito de amizade...mas eu sou muito exigente! Mas dou tudo aos meus amigos, apesar de também lhes dar muito do meu feitio! Beijos grandes amiguinha e podes sempre ligar-me a mim:)

3:44 da tarde  
Blogger elisa said...

Ninguém é de ninguém! Nemna amizade!Acho que a Isa tem razão. As pessoas têm determinados papéis na nossa vida e podem ir embora a qualquer momento. Dói tanto quanto o fim de uma relação amorosa.
Mais c'est la vie!!
Beijinhos

3:59 da tarde  
Blogger Cristina C. Azedo said...

Não sei porquê, estou a conhecer este filme... E tb não encontro explicação. Se calhar é como no amor: não há.
D. Ema

4:17 da tarde  
Blogger Sol said...

Já alguém definiu os amigos como pessoas que para nós são importantes numa determinada altura da nossa vida, que em determinado momento trilham os mesmos caminhos que nós. Cada vez acredito mais nisso: as pessoas passam pela nossa vida, podem ficar por uns tempos, mas depois partem. E o mesmo acontece connosco...

5:50 da tarde  
Blogger Rit@ said...

O que acontece com os "amores" é que não os escolhemos: eles escolhem-nos, ou o destino faz das suas ou a química resulta. Não decidimos gostar de um e não de outro, não nos é dada oportunidade para escolher ou rejeitar.
Com os amigos é o inverso: temos o privilégio de os escolher, de os acolher, de os manter e até de os afastar. É uma escolha,uma partilha deliberada, uma decisão consciente de eleger alguém como amigo e o convidar para a intimidade.Por isso custa tanto perdê-los e demora tanto tempo a superar.
Foi um investimento que se perdeu e uma mágoa que fica devido a uma escolha nossa.
E as expectativas são sempre enormes...

5:53 da tarde  
Blogger panamá said...

Oh...que triste! Mas tudo tem uma explicação, ou não? Bem...se calhar nem sempre! Beijão, mi amor!

7:08 da tarde  
Blogger Mónica (em Campanhã) said...

eu já vi esse filme. doi tanto como perder um homem.

10:06 da tarde  
Blogger Broken M said...

doi muito mais que perder um homem...

1:19 da tarde  

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