sábado, junho 18, 2005

De abalada

Ontem terminei tudo com o Manel. Enchi-me de coragem e disse-lhe Manel, o menino não percebe, mas nós não fomos mesmo feitos um para o outro. Vamos ficar amigos, mas namorados é que não, desculpe lá. E ele embasbacado, a olhar para mim, a balbuciar uns porquês com aquele seu detestável acento alantejano que nunca sequer se esforçou para mudar. Não lhe expliquei, até porque já não valia a pena, mas foi isso que estragou tudo. Bem vi a cara da mamã, quando o levei à casa de São João para o jantar que ela organizou com a tia Mimi e a tia Pipi, de propósito para lhes mostrar que a filha de 33 anos finalmente tinha noivo e ainda por cima girissimo. Coitada, quase teve uma apolplexia quando o Manel começou a falar das searas deste ano que não deram nada e da azeitona que há-de estar toda perdida por causa da seca. Claro que era só para fazer conversa, porque ele também é capaz de falar de coisas interessantes, como o Estoril Open ou a eleição do novo Papa, mas foi um desastre total. As tias não paravam com os risinhos e eu só queria um buraco para me enfiar e sair dali. O golpe final foi quando ele se levantou depois do chá a anunciou que estava de abalada. De abalada? Oh valha-me Deus! Mas que expressão é esta? Antiquérrima, ultrapassadíssima, ninguém diz isto, ainda mais em alentejanês profundo. Só o papá é que lhe achou graça, mas o papá é muito despistado, sempre de nariz enfiado nos jornais - no Financial Times, claro, que lá em casa não entra o Correio da Manhã e nem sequer o Público, esse jornaleco pretencioso. Enfim, o Manel lá se foi embora e eu subi para o meu quarto de miúda, de quando ainda morava na casa de São João, e até chorei um bocadinho, a lembrar-me dos abdominais dele e do resto de que não vou agora aqui falar porque uma mulher decente não fala dessas coisas em público, mas hei-de sobreviver. Como diz a mamã, o homem da minha vida anda por aí, ao volante de um carro como deve de ser, por isso só tenho de manter os olhos bem abertos e estar atenta a todos os Mercedes SLK que me passarem à frente.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não consigo sobreviver num país em que só e apenas tem 20% de licenciados comparado aos estados membros que todos tem a sua percentagem acima dos 75% senão mesmo 80% e as preocupações destes habitantes trancendem-me mesmo!!

3:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Fiquei tão abalada com este teu texto! Sempre fui muito susceptível a expressões e palavras que denotam faltam de gosto ou urbanismo e este "de abalada" é aterrador!!! Compreendo perfeitamente que um manel alentejano que diga uma coisa destas seja completamente esnobado.
De abalada!! Francamente! A mim própria, tem-me sucedido o mesmo com o meu marido: quando arrota ou lança coisas como "paneleirote", "gaja", "sabesatoda" ou "vamos nessa vanessa", a ideia da separação e divórcio toma conta de mim. Será possível pedir o divórcio com base em divergências linguísticas inultrapassáveis?

6:46 da tarde  
Blogger Margarida Atheling said...

A menina tem resmas de graça, sabia?!

Beijinho, querida! ;)

6:55 da tarde  
Blogger mena said...

querida lua: acho que fez muito bem, porque é muito mais chique tratar uma pessoa por você. volte sempre, tá bem? :)

11:04 da tarde  
Blogger André Parente said...

Já agora, escolhe um que tenha pranchas em cima. Vais ver que a mãmã e a tia vão achar imensa piada!

11:22 da tarde  
Blogger miak said...

E nós...que não temos um SLK?
Desistimos?

12:56 da manhã  
Blogger mena said...

nunca! homem que é homem nunca desiste. quando muito, está de abalada :)

1:03 da manhã  

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