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Querida t&v:
Onde andam os homens deste mundo a quem podemos oferecer os nossos pêssegos, salvo seja, naturalmente, porque, vejo agora, essa metáfora que usaste na tua última história presta-se a algumas interpretações dúbias, mas enfim, adiante. Bom, dizia eu, ou perguntava, aliás, onde andam os homens deste mundo, esses que podem muito bem ser a metade que nos falta e que continuamos a procurar? Sim, porque as coisas lidas assim, como tu as escreves, parecem muito fáceis. E depois, na prática, bem, na prática, ao que tudo indica, não existem. Os homens, leia-se. Melhor dizendo, homens românticos, que não se importem de passar uma tarde inteira nas compras e acabar o dia a beber um gin tónico no bar do Hotel do Chiado, de mãos dadas a espreitar o rio; homens que saibam cozinhar, que não deixem os pelos da barba a entupir o lavatório da casa de banho; que aceitem com naturalidade aquele nosso massagista maravilhoso que as amigas andam todas a cobiçar; que nos amparem quando bebemos de mais naquelas noites em que vamos ao Jamaica e depois ainda nos levam um guronzan à cama quando acordamos na manhã seguinte; que aturam a nossa família e se riam quando o gato lá de casa lhes faz xixi nos documentos do trabalho porque anda na altura de marcar território... Enfim, os exemplos podiam continuar, mas acho que já percebeste o que quero dizer. Esta angústia persegue-me há uns tempos, desde que o Carlos saiu de casa e foi de férias com a ex-namorada, precisamente a mesma que andou a encornar nos nossos primeiros tempos de namoro. É um raio de uma angústia tão grande que já me levou a comprar três pares de sapatos novos só na última semana e a investir um balurdio numa incrição num ginásio, porque entretanto descobri que estou cheia de celulite nos braços e meti na cabeça que esse é o primeiro sinal de velhice. Isto já para não falar do cheque que deixei ontem no cabeleireiro para sair de lá com umas belíssimas nuances e depois ir direitinha para casa sentar-me sózinha em frente à televisão. Bom, mas já estou a falar, quero dizer, a escrever demais. Tenho lido o teu blog e lembrei-me de te sugerir que lá escrevesses um pequeno anúncio em meu nome. Sei que é visitado diariamente por várias centenas de fiéis leitores e talvez um deles seja a minha outra metade, a mesma que, sem o saber, está por aí, à espera dos belos dos pêssegos (a metáfora ficou-me mesmo na cabeça...).
Obrigada pela tua ajuda e fico à espera da resposta. Ou das respostas, quem sabe. O Anúncio segue em anexo.
Minha boa amiga:
Podia dizer-te que esperasses calmamente, que continuasses a investir em sapatos (este Verão são maravilhosos, que eu própria já andei a investigar as novas tendências) e em muitas idas ao ginásio e ao cabeleireiro (já agora, celulite nos braços não é nenhum drama, acontece às melhores, acredita) - dizem que o exercício físico é do melhor e não há como mudar de penteado para nos sentirmos como novas. Apesar de tudo isso, não te vou dizer que em breve encontrarás a tua cara metade porque, lamentavelmente, a bola de cristal cá de casa não tem andado a funcionar muito bem nos últimos tempos, mas farei o que me pedes. Palpita-me que exageraste um pouco quando te referiste ao elevado número de leitores deste blog, mas, ainda assim, publicarei com muito prazer o pequeno texto que me envias.
Um abraço e não desesperes. Se entretanto nada acontecer, podes sempre tirar umas férias e passar uns tempos a viajar. Ou podes dedicar-te à pesca. Ou à cozinha e ao ponto de cruz. Ou então podes mesmo investir na escrita e publicar um romance. Sim, esta parece-me uma óptima ideia. Vê só o sucesso que teve a nossa querida Margarida Rebelo Pinto com aquelas suas histórias delicodoces. Mas nisso pensarás depois, em caso de desespero último e absoluto. Por agora, o meu conselho é que esqueças o idiota do Carlos e invistas numas noites bem passadas no Jamaica, que a música ajuda a limpar a alma (desde que não abuses do Jameson que lá vendem, que é fabricado em qualquer sítio menos na Irlanda).
Onde andam os homens deste mundo a quem podemos oferecer os nossos pêssegos, salvo seja, naturalmente, porque, vejo agora, essa metáfora que usaste na tua última história presta-se a algumas interpretações dúbias, mas enfim, adiante. Bom, dizia eu, ou perguntava, aliás, onde andam os homens deste mundo, esses que podem muito bem ser a metade que nos falta e que continuamos a procurar? Sim, porque as coisas lidas assim, como tu as escreves, parecem muito fáceis. E depois, na prática, bem, na prática, ao que tudo indica, não existem. Os homens, leia-se. Melhor dizendo, homens românticos, que não se importem de passar uma tarde inteira nas compras e acabar o dia a beber um gin tónico no bar do Hotel do Chiado, de mãos dadas a espreitar o rio; homens que saibam cozinhar, que não deixem os pelos da barba a entupir o lavatório da casa de banho; que aceitem com naturalidade aquele nosso massagista maravilhoso que as amigas andam todas a cobiçar; que nos amparem quando bebemos de mais naquelas noites em que vamos ao Jamaica e depois ainda nos levam um guronzan à cama quando acordamos na manhã seguinte; que aturam a nossa família e se riam quando o gato lá de casa lhes faz xixi nos documentos do trabalho porque anda na altura de marcar território... Enfim, os exemplos podiam continuar, mas acho que já percebeste o que quero dizer. Esta angústia persegue-me há uns tempos, desde que o Carlos saiu de casa e foi de férias com a ex-namorada, precisamente a mesma que andou a encornar nos nossos primeiros tempos de namoro. É um raio de uma angústia tão grande que já me levou a comprar três pares de sapatos novos só na última semana e a investir um balurdio numa incrição num ginásio, porque entretanto descobri que estou cheia de celulite nos braços e meti na cabeça que esse é o primeiro sinal de velhice. Isto já para não falar do cheque que deixei ontem no cabeleireiro para sair de lá com umas belíssimas nuances e depois ir direitinha para casa sentar-me sózinha em frente à televisão. Bom, mas já estou a falar, quero dizer, a escrever demais. Tenho lido o teu blog e lembrei-me de te sugerir que lá escrevesses um pequeno anúncio em meu nome. Sei que é visitado diariamente por várias centenas de fiéis leitores e talvez um deles seja a minha outra metade, a mesma que, sem o saber, está por aí, à espera dos belos dos pêssegos (a metáfora ficou-me mesmo na cabeça...).
Obrigada pela tua ajuda e fico à espera da resposta. Ou das respostas, quem sabe. O Anúncio segue em anexo.
Minha boa amiga:
Podia dizer-te que esperasses calmamente, que continuasses a investir em sapatos (este Verão são maravilhosos, que eu própria já andei a investigar as novas tendências) e em muitas idas ao ginásio e ao cabeleireiro (já agora, celulite nos braços não é nenhum drama, acontece às melhores, acredita) - dizem que o exercício físico é do melhor e não há como mudar de penteado para nos sentirmos como novas. Apesar de tudo isso, não te vou dizer que em breve encontrarás a tua cara metade porque, lamentavelmente, a bola de cristal cá de casa não tem andado a funcionar muito bem nos últimos tempos, mas farei o que me pedes. Palpita-me que exageraste um pouco quando te referiste ao elevado número de leitores deste blog, mas, ainda assim, publicarei com muito prazer o pequeno texto que me envias.
Um abraço e não desesperes. Se entretanto nada acontecer, podes sempre tirar umas férias e passar uns tempos a viajar. Ou podes dedicar-te à pesca. Ou à cozinha e ao ponto de cruz. Ou então podes mesmo investir na escrita e publicar um romance. Sim, esta parece-me uma óptima ideia. Vê só o sucesso que teve a nossa querida Margarida Rebelo Pinto com aquelas suas histórias delicodoces. Mas nisso pensarás depois, em caso de desespero último e absoluto. Por agora, o meu conselho é que esqueças o idiota do Carlos e invistas numas noites bem passadas no Jamaica, que a música ajuda a limpar a alma (desde que não abuses do Jameson que lá vendem, que é fabricado em qualquer sítio menos na Irlanda).
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Se és jovem (a idade é uma coisa relativa, claro), bem parecido (alto, espadaúdo, olhos verdes...), livre e desimpedido (ou desiludido com a actual relação),
se gostas de assistir ao pôr-do-sol na esplanada da Graça e completaste o ensino secundário,
não negues à partida uma ciência que não conheces.
Acredita: o amor existe e não foi nenhuma invenção de Hollyood ou do Paulo Coelho.
Não desistas porque lá fora há alguém que espera por ti.
Se tens coragem para enfrentar a realidade, vai em frente:
larga o computador e deixa de perder tempo a ler blogues idiotas.
Atreve-te e luta pela felicidade,
porque há alguém que tem pêssegos para te oferecer.
Repostas a este blog
(assinatura ilegível)
5 Comments:
Infelizmente não me qualifico... Mas junto envio Curriculum Vitae para futuras oportunidades. Agadecido.
Para esse peditório eu já dei!!
Se procurares com atenção, se não te deixares desiludir por um ou outro defeito, e se estiveres disposta a fazer uma ou outra concessão, tenho a certeza que encontrarás quem procuras.
Bom, pêssegos não tenho, espadaúdo não sou... Restam-me os olhos verdes.
meus amigos: obrigada pelos vossos comentários/dicas. serão transmitidos à interessada :)
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