segunda-feira, março 14, 2005

A duas vozes

ELA

Pânico, pânico!!! A balança do ginásio não mente: dois quilos a mais! Eu que não punha lá os pés há que tempos (no ginásio, entenda-se), quase desmaiei de susto. Dois quilos são uma enormidade. E nem sequer estão espalhados por todo o lado, nada disso. Instalaram-se precisamente onde não deviam e já estou a ver que o belo do biquini que veio do Brasil, ou mais exactamente os dez exemplares que comprei em Fortaleza, não me vão servir. Bem, terei de renovar o stock, o que até nem é mau de todo... Mas há mais: as calças caqui que eu adorava, a mini-saia de ganga que agora vai começar a subir, empurrada pela força anti-gravidade da celulite, o vestido da Lanidor que comprei no início da estação quando achava que ainda usava o 34... Pânico, pânico, pânico!! Está decidido: vou manter-me longe da maldita balança até conseguir recuperar tudinho. Ou perder, aliás. A porra da celulite está a dar-me a volta à cabeça. Claro que comecei imediatamente a fazer dieta e já bani todos os chocolates, bolachas, biscoitos e afins dos armários lá de casa. Também proibi a minha mãe de me enviar aquela tarte de amêndoa maravilhosa e avisei o Pedro que se tiver o azar de trazer do supermercado alguma coisa que não encaixe na minha dieta temos o caldo entornado. Até porque para ele também é bom. Acabam-se as alheiras de Mirandela que a sogra faz o favor de mandar aos fins-de-semana, acaba-se com a mania do cozido à portuguesa (coisa mais demodée, mas ele insiste...), acaba-se com as sobremesas do Lidl, que ele compra às dezenas de cada vez. E não se queixe, que lá por não ter celulite, tem colesterol. E toneladas dele, a ter em conta as porcarias que passa a vida a comer. Estou stressada, o que é que querem? Dois quilos são uma infinidade de quilos, vem aí o Verão, e uma mulher tem uma imagem a defender, não é?

ELE

Não há paciência. Já não aguento ouvir falar em dietas. Já não aguento jantar uma sopa de legumes e uma peça de fruta. Já não aguento ouvir falar na celulite que a Xana diz que tem e que eu não vejo em lado nenhum. Nem em colesterol, que ela insiste que eu tenho para me impingir aquela comida sem graça nenhuma. Tive de esconder o pudim de ovos e a mousse de chocolate do Lidl na última prateleira do frigorífico, atrás das alfaces e das cenoras e ontem cheguei ao cúmulo de acordar às três da manhã tão esfomeado que fui para a cozinha e comi um queijo da serra inteirinho. O último sobrevivente, porque até as alheiras de Mirandela da mamã estão proíbidas. Já lhe disse que financiava um guarda-roupa novo, mas ela nem quis ouvir falar nisso, porque é muito independente e não precisa do meu cartão de crédito para nada e só quer mesmo é perder os dois quilos que engordou. Dois miseráveis quilos, que não se notam em lado nenhum. Sim, porque já me obrigou a olhar para o seu rabo com uma lupa. Achei que aquilo podia ser uma interessante modalidade das preliminares de que as mulheres andam sempre a falar, mas afinal não era mesmo nada. Acabou com ela a dizer que sou um insensível, que não conheço o corpo dela e outras barbaridades do género. Uma noite desastrosa, com ela a virar-me as costas antes de dormir. Precisamente a acusação que passa a vida a fazer-me, vá lá entender-se as mulheres...

3 Comments:

Blogger Bekx (JGG) said...

Eu reparava se o rabo da minha namorada tivesse mais dois quilos!! Enfim...:)

2:04 da tarde  
Blogger C_de_Ciranda said...

Ah! Como eu tinha saudade do teu "A duas vozes". Que saudades! Sabes, minha caríssima TGV, que foram precisamente esses teus textos que 'primeiramente' me fizeram ficar viciada nas tuas leituras? :)

Beijos, muitos!

*** Ciranda

11:44 da tarde  
Blogger C_de_Ciranda said...

Ah! Como eu tinha saudade do teu "A duas vozes". Que saudades! Sabes, minha caríssima TGV, que foram precisamente esses teus textos que 'primeiramente' me fizeram ficar viciada nas tuas leituras? :)

Beijos, muitos!

*** Ciranda

11:45 da tarde  

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