Kátia Vanessa.
Nunca pensei que me acontecesse uma coisa assim. O maior desgosto da minha vida, acreditem. Tinha tudo tão bem programado, os biquinis, os óculos de sol, o protector solar factor 130, o livro do Dan Brown (fica sempre bem levar uma grande obra literária na carteira, não é?), enfim, tudo pensado. Até gastei um dinheirão nuns calções e num top da Quebra Mar, que afinal não é todos os dias que uma rapariga tem a oportunidade de participar na Copa del Rey. Bem, na verdade o que eu ia mesmo fazer era navegar num barco que ia acompanhar a regata, mas tecnicamente é quase a mesma coisa, não é? Ia ser o dia mais excitante da minha vida, por isso não me conformo... E começou tudo tão bem! Quase desmaiei quando Sua Majestade apareceu no Real Club Náutico de Palma de Mallorca, rodeado de guarda-costas e de senhoras espanholas de sangue azul encavalitadas em saltos de cinco centímetros, vestidas a rigor, como se fossem assistir a uma vernissage qualquer e de máquinas fotográficas em punho a ver se apanhavam um instantâneo do Rei. Tão emocionante, Jesus!! E eu, timidamente, a puxar da Kodak, a pensar que a Rute e a Soraia nunca iriam acreditar naquilo. A seguir, falhei o Príncipe por poucos minutos mas não fazia mal, tínhamos o dia todo pela frente, havia de arranjar maneira de me aproximar, de o cumprimentar, de lhe sorrir. Quem sabe se não conseguiria até trocar algumas palavras com ele, lindo de morrer, másculo e elegante, a velejar com a segurança de quem já nasceu rico. Bom, fazia sentido, não é? Fazia, pois, não fosse o malvado do barco tremer tanto que mal consegui pôr o protector solar na cara. Ao fim de dois parágrafos do Código Da Vinci comecei a pensar que muito provavelmente o melhor era deitar-me na primeira espreguiçadeira e não me mexer um milímetro que fosse. Entretanto, a regata acontecia à minha volta. Contaram-me depois que Filipe de Bourbon, o próprio, passou várias vezes pelo nosso barco. Ele e mais de 50% do jetesete espanhol, entre participantes e acompanhantes. Passaram-me literalmente ao lado. Todos. Seis horas depois, completamente esturricada do sol, arranjei finalmente coragem para me mexer. O barco estava ancorado numa pequena baía e na praia, à distância de poucas braçadas, toda a regata lanchava na praia. Toda, estão a ver? Incluído a realeza e os belos dos guarda-costas. Claro que tens de lá ir, Kátia Vanessa, disse para mim própria, por isso reuni as energias que me restavam, pus um bocadinho de base para disfarçar o verde do enjoo e mergulhei elegantemente com o meu bikini maravilha que a Beta me trouxe do Rio. Foi o fim. Três braçadas depois e já eu estava a achar que morria, com o estômago em fanicos, incapaz de mexer mais um musculo e a ver a praia cada vez mais longe. Vai daí, o instinto de sobrevivência falou mais alto e subi para o veleiro mais à mão, dos muitos que estavam por ali ancorados. Subi e entrei por lá a dentro, perante o ar de estupefacção de uma elegantérrima família espanhola (estou capaz de jurar que já vi aquelas caras na Hola...), a vomitar furiosamente à frente da mesa onde eles, todos animados, faziam o belo do lanche. Poupo-vos os pormenores... Foram uns cridos comigo, juraram que também já tinham mareado, uma vez ou outra, e fizeram-me companhia até que alguém me foi buscar porque eu, naturalmente, recusei-me terminantemente a voltar a pôr um pé que fosse na água. Já se passaram uns meses, mas ainda hoje não consigo engolir a humilhação. Claro que não contei nada à Soraia nem à Rute nem a ninguém, mas estão a ver, não é? Era a minha grande oportunidade de conhecer pessoas fantásticas e maravilhosas e estraguei tudo. Era a minha grande oportunidade de trocar umas palavras com o príncipe (ou com algum dos guarda-costas dele, todos lindos de morrer), e perdi-a vergonhosamente. Com a fúria que me deu atirei o Código Da Vince borda fora, que não queria nada que me trouxesse más lembranças (agora estou a ler um fantástico, da Margarida Rebelo Pinto) e só guardei a top da Quebra Mar porque tinha sido caríssimo e uma rapariga não se pode deixar levar pelas emoções, mas ainda hoje choro quando abro a Hola, que continuo a comprar todas as semanas. Agora ando a treinar lá no ginásio, naquelas máquinas de remo, a ver se me habituo, que em 2007 temos em Cascais o Campeonato do Mundo de Vela, e nunca se sabe...
5 Comments:
Coitada da Kátia Vanessa!
Um drama...!
Felizmente ainda tem o Campeonato do Mundo de Vela!
E depois... nós também não vamos contar nada às amigas dela, não é? Isso sim, seria uma vergonha!
ora é isso mesmo! Uma garota não se deve deixar abater por coisinhas de nada! Assim, como assim, eu aconselhava uns comprimidos para o enjoo, só para garantir que desta vez sai tudo perfeito.
Em frente Kátia Vanessa! A esperança é a última a morrer e ainda ganhamos em Espanha uma princesa!
beijos
Gracinha
Vim aqui parar pelo blog da Pékala.
Devo dizer que gostei bastante sim senhora!!
Vou voltar, olé se vou!!
Malu, www.tintaspermanentes.blogs.sapo.pt
obrigada, malu. e volta sempre :)
beijinhos
t&v
Olha, coitada! Sim, que isto dos enjoos... tem que se lhe diga. Se tem! Aqui há alguns (já muitos) anos atrás, era ver os papás a correr para a farmácia de cada vez que a freguesa aqui tinha de viajar! Ah... e eram dois comprimidinhos, sff. Um para a piquena e outro para a maldita da cachorra que, ao fim de 2 Km já me está a fazer estragos nos tapetes do carro...
:P
*** Ciranda
PS: Beijinhos cheios de saudades já!
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