sexta-feira, outubro 01, 2004

Jantar

Desta vez foi na casa dele. Decidiu finalmente aceitar o convite porque não há melhor maneira de conhecer um homem do que vê-lo no seu mundinho pessoal, no seu próprio ambiente. Recebeu-a de avental e varinha mágica em punho, ainda ocupado em preparar a sopa. A mesa estava posta com todos os cuidados, o menú foi escolhido a dedo e não havia nada fora do lugar, a não ser no escritório, onde se amontoavam jornais e revistas numa colecção irracional.

Não a deixou fazer nada, a não ser escolher a música. Ao lado do prato um presente há muito prometido: o último livro do seu autor favorito.

Ficaram horas a conversar. Trabalho, claro, as férias terminadas, os amigos comuns, a última entrevista de Bagão Félix, as peças de teatro que ambos querem ver, os filmes que perderam no cinema por pura falta de tempo, os últimos livros que leram.

A amizade faz-se destas pequenas coisas, não é? De horas e horas de conversa sobre tudo e sobre nada. O jantar perfeito, até surgir a pergunta fatal: que perfume estás a usar? Não é uma pergunta inocente quando o olhar que a acompanha vem carregado de muitas outras perguntas e os lábios começam lentamente a juntar-se.

Estava terminado o jantar. A fronteira entre a amizade e a importância do perfume começava pouco a pouco a desvanecer-se e a confundir-se. Era hora de voltar para casa.