domingo, outubro 10, 2004

A duas vozes

Ele

Fez-me esperar 20 minutos em frente à estúpida montra da Benetton cheia de coisas caríssimas que eu nunca na vida hei-de usar. Vi os preços umas 50 vezes e à falta de melhor, pus-me a observar quem entrava e saía da Brasileira e os parzinhos sentados na esplanada. Tinha decidido que de hoje não passava. Estou farto de tantos cinemas, cafés ao fim da tarde e idas a exposições de fotografia que já me parecem todas iguais. Às vezes apetece-me simplesmente beijá-la ou dizer qualquer coisa inteligente, daquelas que é suposto dizer nestas alturas, mas nunca me sai nada. Somos amigos há anos, mas ela parece nunca ter percebido que me apetece passar essa fronteira e perceber o que poderia haver para além disso. Mesmo quando eu tinha namorada e ela andava com alguém e até trocávamos confidências sobre as cara-metades, mesmo nessas alturas às vezes dava-me aquela vontade de a beijar e de mandar tudo para o caraças. Se calhar o problema é esse. Se calhar, depois de acontecer, perdia todo o interesse. Mas enfim, não há como experimentar. O pior é esta coisa de termos de ser nós a tomar a iniciativa. Há vezes em que a coisa não funciona. Os clichés do tipo "como é que uma miuda como tu está sózinha" ou outra idiotice do género acompanhados de um daqueles olhares à matador servem lindamente para um daqueles engates no Lux, quando já vamos no terceiro ou quatro copo. Com ela não funciona. É demasiado escorregadia. E hoje, mais uma vez, não funcionou. Cada vez que me tentava concentrar na frase fatal que iria dizer e que iria finalmente mudar tudo, lá desatava ela a falar do último livro que leu, de um filme idiota qualquer ou do último restaurante a que foi. Não deu. E venham dizer-me que ser homem é fácil, que basta querer dar uma queca e pronto. O tanas!!!

Ela

Estive quase a telefonar-lhe à última da hora a dizer que não ía, mas achei que era cobardia e fui na mesma. Somos amigos há anos, às vezes ficamos sem nos falar durante uns tempos, mas depois há sempre um que telefona ao outro e lá vamos pôr a conversa em dia. Quando nos conhecemos ele tinha uma namorada, com quem estava à beira de terminar e eu estava há dois anos com um pseudo namorado que só aparecia quando lhe dava na real gana. Curtimos as mágoas um com o outro e já aí desconfiei que havia ali qualquer coisa no ar. Essas coisas percebem-se, não é? Entretanto mandei o namorado às urtigas, ele também acabou com a namorada e eu cheguei a pensar que valia a pena tentarmos qualquer coisa. Só que ele sempre se comportou como um daqueles adolescentes que não sabem o que hão-de dizer, e a coisa ficou por ali. Modernices à parte, a única vez em que fui eu a dar o primeiro passo saí-me muito mal, por isso nestas coisa prefiro ficar no meu canto, a ver no que dá. O mais engraçado é que passo a vida a provocá-lo, mas depois nunca acontece nada. Desconfio que por vezes até sou um bocadinho cruel nas minhas piadas, mas sempre que me palpita que ele se vai sair com qualquer coisa embaraçosa, sai-me um disparate qualquer e acaba-se logo o clima. Se calhar, para eles às vezes a coisa também não é assim tão fácil. Ou então, sou eu e mais o meu subconsciente convencidos de que é melhor não estragar uma boa amizade...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Finalmente alguma condescendência ao género masculino… Realmente mudou a estação. ;)

Tay

5:22 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ora, ora. nem sequer é primavera... e depois, eu nunca disse que tinha nada contra os homens!! isso cheira-me a mania da perseguição, caro amino cibernautico...
t&v

11:46 da tarde  

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