terça-feira, julho 27, 2004

Catarina

Há dois anos, talvez três, foi ao médico pela primeira vez. Achou que estava grávida, mas trouxe uma desilusão para casa. Tinha um problema hormonal que era preciso resolver. Só o marido ficou feliz, aterrorizado perante a hipótese de mais uma criança para alimentar com o que lhe paga o patrão pelas 12 horas de trabalho nas obras sem direito a segurança social. O "problema hormonal" levou-a a várias ecografias, mamografias e afins, exames médicos com nomes impronunciáveis no seu vocabulário curto de cabo-verdiana recém-chegada a Portugal. Muitas idas ao médico, às urgências, empurra para cá, empurra para lá, alguém acabou por lhe dizer que tem quistos nos ovários, que não se sabe bem a dimensão dos ditos e que tem de ser operada. Marcaram-lhe a próxima consulta para daqui a dois meses - e já vai com sorte - a menos que arranje maneira de ser tratada numa clínica que, por mero acaso, claro, até pertence a um médico amigo do seu médico de família. Catarina espera e desespera, porque entretanto as dores não a deixam trabalhar.
Tenho vergonha de viver num País que trata assim os seus doentes. E quero acreditar que a história da Caty não tem nada a ver com o facto de ela ser imigrante. Não tem, pois não?

1 Comments:

Blogger Cleopatra said...

Pois.... tem e não tem.....Ou será que tem??

10:20 da tarde  

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