terça-feira, março 01, 2005

Medicina tradicional

Querida t&v:

Esta vida não é fácil. Ai não é não. Ando a ver se engravido pela segunda vez, porque não quero ter uma criança mimada e a achar que é o centro do universo. Se bem que o Luisito já pensa exactamente assim, infernizando-me a vida de cada vez que eu quero ver a novela e ele só lhe apetece o canal Panda, mas adiante, que desta vez não te estou a escrever para te falar do pimpolho. Bom, esta vida não é fácil, dizia eu. Com a febre de tentar engravidar, ando a tomar uma hormonas que me deixam com os humores virados do avesso, ora a berrar com toda a gente, ora a choramingar pelos cantos, ora feliz que nem uma borboleta apesar do frio de rachar e dos comentários da minha sogra, sempre a resmungar que o seu filho bem podia arranjar coisa melhor, que basta olhar para as camisas enrugadas que o pobre exibe no escritório e para o puré de batata que eu faço, maldita receita que não atino com ela. Claro que não há pachorra para a sogra, mas admito que também não tenho andado flor que se cheire.

O pobre do Tony já não sabe o que me há-de fazer e é sabido o resultado que têm nos homens estas nossas crises existenciais, que os deixam assim como quando resolvem tomar um banho de piscina numa noite de inverno. Estás a ver, não é? Neste caso, ao meu amorzinho deu-lhe para achar que não tinha de ser só eu a fazer sacrifícios e foi à ervanária da esquina, tão envergonhado como se lhe tivesse pedido para me ir comprar tampões, e chegou-me a casa com uma embalagem de chá de pau de cabinda.

Suponho que o ataque de riso que eu tive e que durou umas três horas não terá ajudado muito, mas o meu queridinho manteve-se imperturbável e tratou de ingerir uma cafeteira inteirinha da mistela. Bom, já deves estar a imaginar o resultado. Descobrimos que a medicina tradicional não falha e que a coisa funciona mesmo, mas a dose foi um bocadinho de mais e, vai daí, ao fim de cinco minutos já se notavam os resultados. Não, querida amiga, não penses que tivemos uma noite de loucura. Nada disso. O homem não dormiu um segundo que fosse, cheio de calores, suores frios, e um volume permanente já se está bem a ver onde, que não serviu absolutamente para nada porque fui incapaz de parar de rir e o Luisito deu-lhe para as insónias e não parava de perguntar ao papá o que lhe tinha acontecido.

Hoje sugeri-lhe que voltasse a fazer o chazinho e que, em vez de uma cafeteira inteira bebesse apenas uma chávena, mas, vá-se lá saber porquê, a sugestão não foi muito bem recebida. Suponho que o facto de me ter dado novo ataque de riso não terá ajudado muito, mas acho que já é exagero ele recusar-se a dirigir-me a palavra enquanto, sublinhou, eu não lhe apresentar um pedido de desculpas formal e sem um único sorriso. Tenho andado a ensaiar, mas a coisa não está nada fácil...

Obrigada, querida, por mais uma vez escutares os meus desabafos.

5 Comments:

Blogger panamá said...

desculpa, mas também escutei os teus desabafos! acho que deves ter uma família super engraçada e solidária! afinal, não tardaram a unir esforços para uma causa comum! muitos beijos, boa sorte e bom ensaio;)

4:41 da tarde  
Blogger panamá said...

eu...a corar! claro!humpfff

9:06 da tarde  
Blogger mena said...

:)
obrigada às duas.
esta carta não é verdadeira, como é óbvio, mas a história tem lá pelo meio uns pintinhos de verdade. como todas as histórias, afinal, porque já há muito pouco que inventar mas há muito para reinventar e é aí que reside uma boa parte do prazer da escrita.
beijijnhos
t&v

12:11 da manhã  
Blogger panamá said...

É óbvio! Toma e embrulha, pa não seres parva! Ainda bem que tem um fundinho de verdade...sinto-me bem melhor! Obrigada pela simpatia;) um beijinho

5:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não importa se a história é verdadeira ou não. O importante é que já a li há uns dias e até hoje solto um sorrisinho encantado sempre que me lembro. continuua :)

11:15 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home